HC-UFPE realiza primeiro tratamento público do Brasil para doença ocular rara Paciente do Agreste pernambucano iniciou terapia inovadora para Doença Ocular da Tireoide (DOT).
Paciente do Agreste pernambucano iniciou terapia inovadora para Doença Ocular da Tireoide (DOT).

Foto: Divulgação
Hospital das Clínicas da UFPE é o primeiro hospital público do Brasil a realizar o tratamento de uma paciente que tem a Doença Ocular da Tireoide (DOT), uma condição rara, crônica e de caráter autoimune, caracterizada pela inflamação e deslocamento do globo ocular para frente que, em casos mais graves, pode causar cegueira. O HC-UFPE é uma unidade vinculada à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).
Inovador, o tratamento da feirante Maria José Alves da Silva, de 51 anos, moradora de Belo Jardim, cidade do Agreste pernambucano (a 180 km do Recife), começou nesta terça-feira (25), no hospital-dia do HC, com a realização da primeira de oito infusões, com intervalo de três semanas entre elas.
“Essa medicação (Tepezza) é um imunobiológico baseado em anticorpos monoclonais direcionados ao foco do problema, que ‘desligam’ a proteína causadora da inflamação da DOT, sendo mais eficaz e com menos efeitos adversos do que o tratamento atual, baseado em corticoides. Além disso, ela reduz o volume dos músculos extraoculares provocando a diminuição do inchaço, algo que nenhum outro tratamento faz”, explica a oftalmologista do HC, Ana Karina Teles, especialista em órbita e oculoplástica.
O Brasil foi o segundo país do mundo a liberar a medicação em julho de 2023, com a aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), três anos após a aprovação na agência similar americana, a FDA (Food and Drug Administration).
“Estou muito feliz e esperançosa de que vou melhorar. Não doeu nada e até dormi durante a aplicação. Espero que outras pessoas possam ter acesso a essa medicação e aos profissionais dedicados que encontrei aqui no Hospital das Clínicas”, disse Maria José.
Como é uma doença autoimune, a DOT pode ser deflagrada com um gatilho emocional, como aconteceu com Maria José, há dois anos, quando ficou em depressão provocada pela morte da mãe. Essa mesma condição afeta a glândula tireoide causando a Doença de Graves, marcada pelo hipertireoidismo. “Na fase mais grave, eu não conseguia olhar para frente nem para cima. Só para baixo. Era horrível. Foi quando procurei ajuda e fui encaminhada para cá (o HC)”, comenta a belo-jardinense.
A oftalmologista Ana Karina Teles explica que nem todos os casos de DOT terão a indicação da medicação, mantendo-se o tratamento atual, baseado em corticoides e cirurgia plástica para a recolocação do globo ocular na órbita. “O paciente passa por exames de imagem, como a ressonância magnética, e uma série de avaliações para saber se é candidato. Não são todos os pacientes que vão ter a indicação ou que vão responder bem ao tratamento, que é indicado ao paciente com a visão dupla, o que chega a ser incapacitante para algumas pessoas. Também é indicado quando os músculos estão muito aumentados e causam dor, além daqueles casos em que a cirurgia (de recolocação do globo ocular na órbita) tem suas limitações”, pontua.
Único ambulatório do Estado especializado em órbita, o HC recebe pacientes de várias cidades do interior e até de alguns Estados do Nordeste, muitos deles para tratar a DOT, que é mais comum entre mulheres (16 casos a cada 100.000 pessoas), mas entre os homens (3 casos a cada 100.000 indivíduos) a doença costuma ser mais grave.
“Estar entre os primeiros hospitais do Brasil a realizar esse procedimento é muito importante para o HC, que é um grande centro formador de profissionais. Isso gera um impacto imenso também para os pacientes, pois muitos deles desconhecem a doença. E quanto mais cedo houver o diagnóstico e o tratamento, melhor será para o paciente. A DOT causa dores e sofrimento e pode levar a problemas irreversíveis”, finaliza Ana Karina.
A medicação ainda não está no rol de procedimentos, medicamentos e OPM (órtese, prótese e meios auxiliares de locomoção) do Sistema Único de Saúde (SUS).
Sobre a Ebserh
O HC-UFPE faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.