MDB de Jarbas e a sucessão municipal do Recife

Ninguem tem duvidas de que o senador pernambucano Jarbas Vasconcelos (MDB) é o que se pode chamar de reserva moral da política, sobre tudo em tempos que os escândalos envolvendo políticos passaram a fazer parte de todos os noticiários. Jarbas foi deputado estadual, deputado federal por mais de uma vez, prefeito do Recife em três oportunidades, governador do estado por dois mandatos e está no segundo mandato de senador da república. Para se ter uma idéia da condição moral de Jarbas Vasconcelos, o Recife quando administrado por ele esteve envolvido em importantes obras como Metrô e TIP, já no governo do estado, foram tantas obras sendo que a mais importante foi a duplicação de um trecho da BR 232. Nunca se ouviu falar em qualquer ato que possa desabonar a conduta moral do senador Jarbas Vasconcelos.
No entanto, o velho MDB está divido em dois blocos. Um deles composto por Jarbas Vasconcelos, Raul Henry e Murilo Cavalcanti, integra a base de apoio político do governo do estado e da administração do Recife. O outro é integrado pelo grupo do senador Fernando Bezerra Coelho, que faz parte do governo federal e é adversário do governador Paulo Câmara e do prefeito do Recife Geraldo Julio. Pernambuco aguarda com ansiedade pra saber qual o comportamento do MDB nas eleições de outubro, se vai entrar em campo na defesa do presidente Jair Bolsonaro ou a favor do governador Paulo Câmara? A começar pela capital do estado, inclusive onde Murilo Cavalcanti é secretário de Geraldo, por indicação de Jarbas e Raul. MDB vai ter candidatura própria no Recife? MDB apóia a candidatura de João Campos (PSB)?
Refrescando a memória:
Jarbas Vasconcelos foi eleito para o primeiro mandato de senador da república no ano de 2006, passou a ser um dos opositores ferrenhos do então presidente Lula e sempre com discursos duros. No auge das denuncias de corrupção contra políticos de diferentes partidos, inclusive correligionários do MDB o senador disparou uma rajada que atingiu de cheio o seu próprio partido. Em entrevista a Revista Veja em fevereiro de 2009, Jarbas se revelou decepcionado com a política e, principalmente, com os políticos. Ele disse que o senado virou um teatro de mediocridades e que seus colegas de partido, com raríssimas exceções, só pensavam em ocupar cargos no governo para fazer negócios e ganhar comissões. Ele disse ainda na entrevista que boa parte do MDB só queria mesmo corrupção.
A entrevista de Jarbas Vasconcelos causou grande repercussão no meio político, Vasconcelos disse ainda que o MDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. “É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos”, foi o que disse Jarbas na entrevista em fevereiro de 2009. A reação dos correligionários foi imediata, principalmente dos ex-deputados, Eduardo Cunha (MDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (MDB-RN). Os dois chegaram a defender a expulsão de Jarbas do partido, o pernambucano continuou com suas posições e ainda foi eleito deputado federal em 2014 e voltou a ser eleito senador em 2018. Eduardo Cunha e Henrique Eduardo Alves, não estão mais na política e terminaram presos por corrupção.
Dez anos se passaram dessa arrepiante entrevista de Jarbas Vasconcelos, de lá para cá Jarbas ajudou a eleger Geraldo Julio prefeito do Recife em 2012 e 2016. Foi aliado de Paulo Câmara na primeira eleição em 2014, ajudou a reeleger em 2018 e junto com Humberto Costa do PT foi eleito de volta para o senado. O MDB se for ter candidatura própria no Recife é claro que vai abrir mão do espaço que tem no governo, ou no mínimo na prefeitura do Recife que ocupa a pasta de segurança cidadã. Por outro lado, mantendo-se na condição de aliado e sem abrir mão da coerência defendida por Jarbas, o partido pode fazer a indicação do nome de um vice para João Campos. Nesse caso o nome de confiança de Jarbas e Henry seria o de Murilo, sem falar que o mesmo tem boa aceitação em todas as camadas da sociedade recifense.