FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

 FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO

Maria Eduarda Lavoisier

“Quando os ricos estão em guerra, são os pobres que morrem.” A frase de Jean-Paul Sartre nos traz uma reflexão interessante quanto à elitização da cultura. Ao longo do processo sócio-histórico, a arte, em suas ramificações, foi vítima da desigualdade, sendo nichada a uma minoria seleta.

Todavia, o meio artístico compõe uma esfera transformadora. Através deste é possível não só ampliar ideais, mas defender a cidadania. Como dito pelo artista George Passmore em entrevista à revista Vogue, “A arte precisa ser acessível, pois ela é a graça que nos salva.” Assim, os amigos Bruno, Patrícia, Elvira e Daniel desenvolveram o projeto Ciranda das Muriçocas Atômicas. Juntos, eles já possuíam uma banda infantil com o mesmo nome.

Após se apresentarem voluntariamente na Casa dos Espíritas de Pernambuco para crianças carentes, deram continuidade à proposta. “Depois disso, fizemos mais três shows beneficentes, sem cobrar nada, claro, para o NACC (Núcleo de Apoio à Criança com Câncer). Foi maravilhoso para nós, levamos muita alegria,” relembra Bruno. Surgiu, então, a ideia de dar ao grupo o cunho social. “Pensamos em não só fazer os eventos, mas também arrecadar material necessário para os meninos se manterem.”

O projeto, que está no início, propõe apoiar Instituições voltadas ao amparo de crianças em situação de vulnerabilidade. Com isso, conseguindo, por meio de doações, produtos de higiene, alimentos e brinquedos. Porém, há o foco em consolidar o contato dos pequenos com formas da arte. “O conceito artístico está presente em muitas pontas. Durante a entrega, queremos cantar, tocar e fazer leitura para eles. Pretendemos trazer livros para as entidades, ou seja, estas pegam as obras, vendem e arrecadam dinheiro para elas próprias. Além da música, temos aí a arte transmitida na escrita, na literatura. ”explica. Há também o intento de gravar faixas, colocá-las em serviço de streaming, com cem por cento dos lucros transferidos à causa. “Eu escrevo livros, e as vendas deles, sendo infantis ou não, serão totalmente revertidas ao projeto.”

Devido à atual crise pandêmica imposta pela covid-19, bem como a essencialidade do distanciamento social, os concertos estão, por ora, suspensos. Mas, algumas entregas conseguiram ser realizadas conforme o protocolo exigido. Nos meses de setembro e outubro, foi iniciada uma campanha de arrecadação para auxiliar o Lar do Nenen. “Fomos lá antes, perguntamos o que era mais essencial naquele momento. O local estava precisando de fraldas, pano de chão, colônia e papel higiênico. Até porque neste momento de pandemia, a ajuda caiu muito,” disse. Bruno ainda destaca o papel da prestação de contas, “Uma de nossas diretrizes é a transparência. Deixamos claro o emprego do dinheiro somente àquela finalidade.”

Ao pregar a caridade, de uma forma humana, se não ética, a Ciranda das Muriçocas Atômicas concede esperança à vida de tais crianças. É tentar superar as falhas respostas estatais e dar-lhes uma perspectiva totalmente alheia à marginalização. Como uma vez defendido pelo já mencionado Sartre, “És livre, escolhe, ou seja, crias.”

 

Redação: Maria Eduarda Lavoisier

robsonouropreto

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