A educação do futuro e o futuro da educação: uma rápida perspectiva

Mauricelia Montenegro
Vivíamos num mundo em que o medo do novo sempre nos levou a nos apegar ao antigo… “Antigamente isso era melhor… No meu tempo não era assim…” dentre tantas e tantas outras frases que também ilustrariam este nosso apego, não apenas ao antigo, mas também, aquilo que nos trouxesse segurança por já conhecermos. Neste mundo, em que as novas tecnologias já faziam parte de nosso cotidiano, ainda não cabiam certos “novos costumes”: já se aceitava do namoro virtual a compra de ingressos para um show on line, principalmente aqueles mais jovens ou destemidos a abraçar o desconhecido e/ou o novo, mas muitos setores sentiam na “pele” a dor de se implementar certas mudanças. Vivíamos numa velocidade quase que assustadora por causa de tantas mudanças tecnológicas que patrocinavam mudanças comportamentais e culturais num mundo já globalizado, universalizado e com suas aptidões e resistências. Neste artigo opinativo, me reservo a dissertar um pouco sobre a educação que veio deste mundo e chegou a este outro que estamos vivendo. Um mundo de faces encobertas, de mãos necessariamente higienizadas por soluções sanitizantes e de cérebros confusos, cercados de medos e solidões e que muitas vezes só encontrou colo através de uma reunião virtual ou por quaisquer outras estratégias de comunicação utilizando a internet como meio principal.
Neste mundo pré-pandemia, assisti um boom de faculdades nascendo, algumas com compromissos qualitativos, outras buscando, prioritariamente, quantidades de alunos e de suas naturais cifras. Neste mundo, as novas tecnologias aplicadas à educação muitas vezes foram pautas nas mais diversas esferas: congressos, seminários, encontros… livros, palestras e consultores… eram tantos os que levantavam a bandeira das novas tecnologias na educação, mas muito, muito mais eram aqueles que desacreditavam, não entendiam, pior, temiam o que estaria por traz destas novas ferramentas de produção do saber, ou a serviço desta produção. Além (ou a partir?) das novas tecnologias, surge, uma “nova” modalidade de ensino, denominada Ensino à Distância. Urgentemente muitos levantaram novamente suas bandeiras contra, como se fosse uma grande novidade a modalidade. Teriam eles se esquecido do instituto Universal Brasileiro, fundado em 1941 e que vendiae vende seus produtos educacionais à distância, sempre através de um anúncio em alguma revista em quadrinhos?
Aliado e decorrente das novas tecnologias, o (novo) ensino à distância se encorpou e, com as possibilidades de interatividade e estratégias de aulas assíncronas e síncronas, não apenas cursos de técnico em refrigeração passaram a ser ofertados, mas também, cursos superiores. Isso provocou tantas e tantas críticas: “Educação só presente” ouvi de uma colega que também habitou este passado mundo.
Talvez o que mais estivesse necessitando de reflexão não fossem as estratégias didático-pedagógicas escolhidas para a implementação desta nova (sic) forma de educar, mas sim, o conceito de presença. Quando falamos ao telefone, por exemplo, presentificamos quem está do outro lado da linha, muito mais que aquele outro que ao nosso lado está, mas que com ele não interagimos. É importante, ainda, ressaltar que o telefone é uma invenção do final do século XIX, pelo empresário Alexander Graham Bell, e por incrível que pareça, ainda estamos discutindo distância e presença?
Eis que quase que de repente este mundo se transforma radicalmente por causa de uma pandemia provocada pelo vírus Sars-Cov-2. Em alguns meses, escolas foram fechadas, universidades também e o mundo da educação parou! Parou com suas obrigações didático-pedagógicas e com suas obrigações contratuais. A micro e macro economia sentiram um forte abalo, e se temia algo ainda pior. O setor da educação tinha praticamente duas saídas: interromper por tempo indeterminado suas atividades ou migrá-las para o ensino à distância. A segunda opção foi elencada e acertadamente os prejuízos econômicos e pedagógicos foram reduzidos. Aquele ensino à distância que por muitos era demonizado, passou, de uma hora pra outra, a ser o “salvador da pátria”. Urgentemente as classes docente e discente correram atrás do prejuízo provocado pelos déficits no uso das novas tecnologias. Todos se adequaram, mesmo que num espaço de tempo tão curto, mesmo que de forma tão traumática, a esta nova realidade deste novo mundo. O professor que não sabia usar um power point (programa utilizado para exibir slides virtuais) passou a editar vídeos e o alunos que não prestavam atenção à sua antiga aula, passaram a apreciá-la.
A educação precisou ser vista de uma forma diferente, do ensino fundamental a pós-graduação a solução foi uma só: implementar estratégias de ensino à distância com o uso do que estava disponível no mercado de tecnologias educacionais e já tivera sido testado exaustivamente: PDFs, aulas on line, plataformas que simulam salas de aula, chats, e-mails e o velho e inseparável telefone, agora, neste novo mundo, descobrindo sua nova função, a de porta de entrada para a nova escola.
Nunca é demais lembrar que a briga por preços após a queda do FIES já era grande, agora com a predominância do ensino remoto/distância, se intensificou, porém é importante não colocar todas as instituições de Ensino num mesmo lugar porque todas estão fazendo uso de uma mesma estratégia, sempre é bom lembrar que existem produtos e serviços diferenciados e com objetivos claros, alguns se apegam apenas a quantidade, outros conseguem encontrar um denominador comum entre esta necessária quantidade para fazer o negócio educação funcionar e a qualidade que também faz muitos negócios funcionarem, mesmo que não tenham aqueles preços tão competitivos que muitas empresas praticam.
A qualidade sempre será um ponto a ser ressaltado tanto quanto foi no mundo passado, como no atual e no que está por vir. A qualidade ditará as diferenças, os resultados e, inclusive, os preços. As ferramentas educacionais, sejam estas analógicas ou digitais, presenciais ou a distância muito interferem na qualidade do ensino, porém uma variável, de valia ainda maior, está naquele que abordará estas ferramentas. No meu tempo o quadro escuro e o giz eram os mesmos, mas as aulas não. Aquele mesmo quadro enfadonho na mão de um professor que o fazia ser assim se transformava num portal para mundos inimagináveis, quando ele estava sendo capitaneado por um outro professor. Este princípio ainda se torna imutável a meu ver.
O que podemos imaginar para um futuro próximo do/no universo da educação? Acredito que o mínimo que poderá acontecer no mundo que existirá na pós-pandemia é a natural internalização do hibridismo, além da sala de aula presencial, muito se implementará através das novas tecnologias… muitos dias os alunos não deverão ir a escola para que a partir destas novas ferramentas eles possam se “encontrar” em uma sala no fundo do mar ou em viagens a outros planetas ou, ainda, em passeios pelo tempo, dobrando as esquinas do passado para compreender melhor as largas avenidas que serão construídas no futuro.
Quanto ao nosso país, o Brasil tem muito futuro para a educação, ainda temos tanto espaço para crescer. Aqui temos apenas 20% de nossa população de 18 a 24 anos no ensino superior, precisamos chegar a 30% até 2024, conforme PNE (Plano Nacional de Educação) numa meta quase que impossível em médio prazo, enquanto isso não acontece, assistimos países, do chamado primeiro mundo, vivenciando seus 60% de jovens de 18 a 24 anos nos bancos das faculdades e das universidades. O Ensino à distância e remoto trazem para o nosso país, de dimensão continental, uma possibilidade de encurtar distâncias, de presentificar ótimos profissionais em locais que dificilmente teriam acesso a eles, de trazer o necessário “sotaque” tecnológico para as gerações X, Y, Z e millenials e ainda, de praticar preços mais baixos por alcançar mais pessoas ao mesmo tempo.
Para essa nova educação do futuro temos um grande desafio, nos habilitarmos a usá-la enquanto professores, pedagogos, psicopedagogos dentre tantos outros profissionais deste ramo inter e multidisciplinar, e, ainda, a entendermos e internalizarmos que assim como temos alunos presentes que se ausentam, muito ausentes se presentificam, esta é a magia que há por trás do que estes recursos podem proporcionar.
Tenho uma particular aposta, nada voltará para o que era antes, pelas carências psicossociais, acredito que muitos não optarão pelo que hoje está sendo vivenciado, por isso acho que o hibridismo, o caminho do meio, seja o mais possível a ser praticado por esta educação que aparentava ser a educação do futuro e que se tornou o futuro da educação, em que as estratégias que compuseram a educação à distância deixaram de promover medos e inseguranças, e passaram a ser vistas com outros olhos, sem o preconceito de quem teme e sem o medo de quem desconhece.