A (in)equidade na saúde: o abismo entre o Recife médico e a carência no interior de Pernambuco

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Enquanto o Recife ostenta o título de segundo polo médico do país, com uma rede de hospitais e clínicas capazes de atender até as demandas mais avançadas, a realidade na saúde do interior de Pernambuco, especialmente no Sertão, pinta um quadro preocupante de (in)equidade e descaso.
Apesar das modernas instalações na capital, muitos residentes no interior enfrentam uma crua falta de atendimento médico adequado, salvo por algumas exceções. Pacientes graves ou com necessidades especializadas frequentemente se veem obrigados a enfrentar longas e tortuosas transferências para o Recife ou a buscar tratamentos fora de suas regiões de domicílio.
A demora nessas transferências, causada por fatores como congestionamento na Central de Leitos, más condições das estradas e a falta de veículos de transporte adequados, revela uma faceta cruel da (in)universalização da saúde preconizada pela Lei do SUS. Na prática, a descentralização almejada muitas vezes não se concretiza, deixando os cidadãos do interior com um atendimento desigual em comparação aos moradores da Região Metropolitana do Recife, que desfrutam de cuidados médicos mais rápidos e eficazes.
No Sertão, persiste um triste ditado popular: “aqui se morre de interior“. Essa expressão, carregada de resignação e descontentamento, reflete a falta de assistência médica que muitos sertanejos enfrentam, culminando em um cenário onde a vida no interior parece ter um valor inferior.
O poeta Vinícius Gregório, de São José do Egito (PE), captura a essência dessa realidade em seu soneto “A causa da morte“, onde relata a trágica jornada de pacientes em busca de cuidados médicos. O poema ecoa a voz de uma região que, além de lutar contra as doenças naturais, enfrenta um desafio adicional: o descaso com a saúde da população do interior.
Diante dessa (in)equidade, é crucial refletir sobre a eficácia das políticas de descentralização e universalização da saúde, buscando soluções que atendam verdadeiramente às necessidades de todos os cidadãos, independentemente de sua localização geográfica. O ditado “aqui se morre de interior” não pode ser aceito como destino, mas sim como um chamado urgente para ações que garantam um sistema de saúde justo e igualitário para todos os pernambucanos.