Advogado entra com pedido de prisão contra Johnny Hooker

 Advogado entra com pedido de prisão contra Johnny Hooker

Documento cita a polêmica participação do cantor pernambucano no Festival de Inverno de Garanhuns deste ano. No palco, Hooker afirmou que Jesus Cristo é travesti
Após a polêmica apresentação do cantor pernambucano Johnny Hooker, na última sexta-feira (27), durante o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), um advogado recifense resolveu entrar com o pedido de prisão preventiva contra o artista. No show, Hooker discursou em favor da peça O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, que havia sido retirada e depois reintegrada à programação do FIG, e, em determinado momento, afirmou que “Jesus é travesti”. Na peça, a atriz transexual Renata Carvalho interpreta o papel de Cristo.
A declaração rendeu aplausos, vaias e garrafas foram arremessadas em direção ao palco. Na sequência, Hooker, mais exaltado, gritou “Eu estou aqui hoje para dizer que Jesus é travesti sim! Jesus é transexual sim! Jesus é bicha sim!”. Tais falas motivaram o advogado Jethro Ferreira da Silva Júnior, de 55 anos, que se descreve como evangélico não praticante, a redigir uma notícia crime contra o artista.
No texto, protocolado no gabinete do chefe da Polícia Civil de Pernambuco, Jethro afirma que o Brasil é um país laico, mas que 178 milhões de brasileiros seguem a fé cristã. Assim sendo, e argumentando que as pessoas de fé cristã têm a figura de Jesus Cristo como a de um homem heterossexual, seria uma ofensa descrever o filho de Deus fora destes dogmas. Para ele, a manifestação de Johnny Hooker afirmando que Jesus é travesti configura uma ofensa a Cristo, aos 178 milhões de brasileiros e, particularmente, a ele próprio, Jethro Ferreira.

Trecho do de prisão contra Johnny Hooker. Imagem: Reprodução

Trecho do pedido de prisão contra Johnny Hooker. Imagem: Reprodução

O advogado ainda cita o artigo 20, inciso 2º, da Lei Federal Nº 7.716 de 1989, que trata do crime de praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Crime esse que pode acarretar na reclusão de um a três anos e multa. Jethro também destaca o artigo 280 do Código Penal, que tipifica como crime o escárnio de alguém publicamente por motivo de crença ou função religiosa. Nesse caso, a detenção seria de um mês a um ano ou multa.
Contatado pela nossa reportagem, o advogado afirmou que não estava no FIG, mas recebeu o vídeo com parte do show de Hooker e não concordou com as cenas. “Fiquei chocado. Tem que existir o respeito mútuo. Independente da religião, eu sou cristão e o modo que ele tratou a questão foi uma ofensa aos 86% dos brasileiros que também são cristãos”.
Seguindo a linha da queixa que protocolou junto à Polícia Civil, o advogado continua a explicação. “O contexto que eu vi foi um pedaço do vídeo todo do show. Foi uma expressão muito infeliz. As religiões cristãs visualizam e têm como dogma que Jesus é um homem heterossexual. A Bíblia é interpretativa, mas quando você transmuta a sexualidade de um ser que uma religião considera como superior, a intenção era de ofender. Tanto que foi aplaudido por uma minoria e foi vaiado por parcela significativa dos presentes. As frases por si só são ofensivas”. Questionado se quer mesmo que Hooker seja preso, o advogado respondeu apenas “quero que ele responda segundo a Justiça entender que seja o suficiente”.
A reportagem tentou entrar em contato com Johnny Hooker, com a assessoria e a produção do cantor na noite desta segunda-feira (30) para que ele pudesse comentar o caso, mas, até as 23h20, não obteve resposta.
Através de nota, o prefeito de Garanhuns, Izaías Régis Neto, comentou o caso. Confira um trecho do texto:

Ontem (sexta), testemunhamos, perplexos, manifestações nocivas do cantor Johnny Hooker que proferiu palavrões, insultos e provocações contra símbolos religiosos. Reconhecemos que não se trata de um acontecimento isolado, infelizmente, durante a mesma semana, tivemos Daniela Mercury com o mesmo discurso de senso comum, simplista e arrogante.
Cantores – pagos com dinheiro público – que se preocupam mais em ofender pessoas e a religião alheia do que com sua música (que é o que realmente importa), não merecem respeito e tão pouco admiração, mas desprezo.
Não podemos compactuar com práticas discriminatórias, nem com ofensas, seja em relação a gênero, orientação sexual, etnia, religião ou qualquer outro tipo. Tentar impor uma perspectiva como sendo absoluta é epistemologicamente impossível.

robsonouropreto

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