Álvaro Porto critica marketing da segurança pública em Pernambuco e diz que governo vive em “ficção estatística” Presidente da Alepe afirma que números oficiais são maquiados para gerar propaganda e não refletem a grave realidade das ruas, com aumento da violência e estrutura precária para atuação dos policiais.
Presidente da Alepe afirma que números oficiais são maquiados para gerar propaganda e não refletem a grave realidade das ruas, com aumento da violência e estrutura precária para atuação dos policiais.

Foto: Divulgação
Em discurso na tarde desta terça-feira (13.05), o presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco, deputado Álvaro Porto (PSDB), criticou a falta de clareza, planejamento e resultados nas políticas de segurança do governo do estado. Apontando que a atual gestão produz uma ficção, construída a partir do controle das estatísticas da violência, Porto disse que a realidade das ruas e os registros diários da imprensa contradizem o cenário divulgado pelo Palácio do Campo das Princesas a partir de um marketing fantasioso.
“É importante reforçar, antes de tudo, que segurança não se faz com narrativas e números maquiados. A premissa básica para se construir uma segurança efetiva passa por planejamento, policiamento, inteligência e, principalmente estrutura de trabalho e valorização dos policiais estão no batente tentando fazer o seu trabalho”, disse. “E isso não está sendo feito”, assinalou.
Segundo o deputado, a fantasia do governo serve apenas para gerar manchetes, produzir comparativos e incrementar propaganda de TV e Internet. “O slogan da atual gestão de que o estado iria avançar sem deixar ninguém pra trás é apenas slogan. Só um slogan. Nada mais”, disse.
Para fundamentar o descompasso que existe entre os dados oficiais e a realidade, Porto elencou os 26 assassinatos registrados no último fim de semana; a duplicação do assassinato de mulheres entre janeiro e abril deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado; e as 52 crianças e adolescentes de quatro e 17 anos baleadas no Grande Recife nos quatro primeiros meses deste ano, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado.
“Entre janeiro e abril, 35 mulheres foram assassinadas em virtude do gênero em Pernambuco. Enquanto isso, contamos com apenas 30 centros de referência de atendimento e 15 delegacias de mulheres. Dessas delegacias, somente cinco funcionam 24 horas, o que é um número irrisório para um estado que soma 185 municípios. Ou seja, o estado é o promotor deste contexto desesperador que está matando as mulheres”, observou.
Porto lembrou que a falta de estrutura, de condições de trabalho e o baixo efetivo de policiais vêm acarretando sobrecarga e problemas de ordem emocional para profissionais do setor.
Citou, inclusive, dados de uma pesquisa, divulgada há dois meses, pela Associação dos Delegados e Delegadas de Pernambuco (Adeppe), que constatou que 41% destes profissionais afirmaram estar esgotados emocionalmente por conta da sobrecarga de trabalho e do forte estresse inerente à profissão.
“A pesquisa foi além da necessidade dos cuidados psíquicos. Na verdade, é preciso que o estado resolva o déficit de mais de 220 vagas para delegados em Pernambuco. Afinal, é exatamente o acúmulo de municípios e de atribuições a razão do excesso de trabalho dos delegados”, frisou.
O deputado tratou também, no discurso, da precariedade do Hospital da PM, hoje alvo de determinação para recuperação urgente por parte do TCE. Segundo o tribunal, o hospital apresenta graves problemas estruturais, incluindo mofo e desabamentos no teto, estando, portanto, a segurança e a salubridade das instalações comprometidas. “Este quadro de descaso e desvalorização dos policiais e seus familiares diz muito da falta de planejamento e ação da gestão”.
Álvaro Porto foi aparteado pelos deputados Dani Portela (PSOL), Antonio Coelho (União), Júnior Matuto (PSB), Kaio Albino (PSB), Édson Vieira (União), Alberto Feitosa (PL), Rodrigo Farias (PSB), Sileno Guedes (PSB), Waldemar Borges (PSB) e Mário Ricardo (Republicanos).
De maneira geral, os parlamentares destacaram que o debate sobre a violência e a inoperância das políticas do governo para o setor precisa ser feito. Do mesmo modo, lembraram que a Alepe deve cobrar planejamento, compromisso orçamentário e implicação efetiva da governadora Raquel Lyra (PSD) com o combate à violência. Feitosa propôs ainda uma visita de deputados ao Hospital da PM, sugestão que foi acatada.
A líder do governo na Casa, deputada Socorro Pimentel (União), também fez seu aparte defendendo ações desenvolvidas pela atual gestão.
Encerrando o discurso, Álvaro Porto afirmou que, ao não conseguir adotar uma política clara e eficiente de segurança pública, o governo do estado se atropela e deixa pra trás promessas, Pernambuco e seu povo.