Clube das Pás desfila a festa do Divino Rei no Carnaval 2020

 Clube das Pás desfila a festa do Divino Rei  no Carnaval 2020

O Clube Carnavalesco Misto das Pás busca o tetracampeonato no Grupo Especial na categoria Clube de Frevo em 2020 com o tema “Festa do Divino”, o recorte histórico proposto pelo carnavalesco José Hilário é a tradição luso-brasileira celebrada em diversos estados do país, que mistura religiosidade com um desfile de pura exaltação, folia, cultura e tradição, desfilando reisados, pastoris, cavalhadas e muito mais.

Uma equipe de costureiras e artesãos vem trabalhando todos os dias, sob a coordenação de Hilário, para confeccionar fantasias e adereços para diretores, sócios, frequentadores e convidados da agremiação que participarão do desfile na passarela do frevo, no dia 23 de fevereiro, às 20h30, na Av. Dantas Barreto. “Cada carnaval tem uma história. Mas o carnaval desse ano aqui nas Pás pra mim é um dos mais bonitos da história do Clube”, revela o carnavalesco. Ao todo, são 273 componentes divididas em 11 alas, intituladas como: Folia de Reis, Damas, Salve o Divino, Cordão, Bandeira do Divino, Rosas para o Divino, Velha Guarda, Frevo, Orquestra das Pás, Cortejo do Divino, Apoio e Diretores. 

A confecção de chapéus, sapatos e sapatilhas e adereços de mão e de pescoço é tocada a várias mãos por um grupo de artesãos especializados em Carnaval. Para montar essa confecção, o Clube das Pás adquiriu modernas máquinas de costura overlock industrial e centenas de itens que vão desde mantas e cartonados com glitter até tecidos dos mais diversos tipos. Muitas indumentárias foram adquiridas em lojas especializadas do Rio de Janeiro. José Hilário viajou recentemente ao Rio para conhecer novidades nos barracões das escolas e trazer tecidos e trajes especiais da cidade para composição das roupas, pois não consegue no mercado nordestino. Entre as novidades para 2020 o carnavalesco adianta “Um das apostas para encantar ainda mais o público é o uso de um trono que leva uma flâmula com estandarte do Clube das Pás, a ideia foi bem aceita no ano passado e não deixa de ser uma aposta do Clube na modernização do carnaval”, detalhou. Questionado de onde vem tanta criatividade, Hilário não esconde as fontes “A inspiração vem da vida e da história que a gente pretende contar na avenida”.

História do tema “Festa do Divino Rei”

A origem da Festa do Divino se encontra em Portugal do século 14, com uma celebração estabelecida pela rainha Isabel (1271-1336) por ocasião da construção da igreja do Espírito Santo, na cidade de Alenquer. A devoção se difundiu rapidamente e tornou-se uma das mais intensas e populares em Portugal. Por isso, chegou ao Brasil com os primeiros povoadores. Há documentos que atestam a realização da festa do Divino em diversas localidades brasileiras desde os séculos 17 e 18. 

A tradição da Festa do Divino se mantém viva ainda hoje em vários Estados brasileiros. Em Pirenópolis, Goiás, ela é uma mescla de várias manifestações folclóricas. Além das cavalhadas, representando as batalhas entre mouros e cristãos, há a alvorada, os mascarados e representação teatral. Na parte religiosa da festa, há novenas, missas e procissões.

José Hilário

Carnavalesco do Clube das Pás há 2 anos, José Hilário, tem mais de trinta anos de carreira e passou sete sendo responsável pelas vitórias consecutivas da Escola Gigante do Samba.  Além da Gigante, o carnavalesco já realizou trabalhos para a Unidos do Comércio – que hoje não existe mais, a Pitombeira dos 4 Cantos, Unidos da Boa Vista, Bloco Esperança, Batutas de Água Fria, Bole Bole e ganhou um carnaval junto com a Escola de Samba Deixa Falar.

História – Clube Carnavalesco Misto das Pás – 132 anos (Desde 1888)

A história do Clube das Pás – o mais antigo de Pernambuco e um dos mais antigos do País – remonta à sua fundação no dia 19 de março de 1888, dois meses antes da Abolição da Escravatura no Brasil. O Recife fervia de alegria no Carnaval, enquanto um navio cargueiro atracado no Porto do Recife precisava ser abastecido de carvão, às pressas, para seguir viagem. Como não tinha trabalhador interessado naquela tarefa em plena folia, uma empresa encarregada do abastecimento do cargueiro, ofereceu pagamento dobrado aos estivadores. Daí, o comerciante português Antônio Rodrigues reuniu um grupo de homens dispostos a deixar a folia de lado e tratar de fazer o trabalho por uma remuneração maior.

Depois do serviço concluído e com muito dinheiro no bolso, o grupo de foliões, formado por Francisco Ricardo Borges, Manoel Ricardo Borges, João da Cruz Ferreira e João dos Santos, botou as pás de carvão nas costas e foi comemorar no Clube dos Caiadores. Enquanto brincavam o Carnaval, eles tiveram a ideia de fundar um clube carnavalesco. Começaram a discutir os nomes: Clube das Pás de Carvão, Clube das Douradinhas e Anjos da Boa Vista. No final, foi escolhido Bloco das Pás de Carvão. 

Nos primeiros anos, a agremiação funcionou na Boa Vista. Depois, para erguer a sede do clube, o grupo de foliões comprou na Rua das Hortas, por seis mil cruzeiros, um terreno de propriedade do Recolhimento de Nossa Senhora da Glória do Recife, Conceição de Olinda e Sagrado Coração de Jesus de Igarassu. Até que, muito tempo depois, a Associação Carnavalesca de Pernambuco comprou um terreno localizado na Rua Odorico Mendes, em Campo Grande, e o doou ao Clube das Pás. Meses depois, a senhora Maria do Carmo, que era sócia das Pás, arcou com as despesas de legalização do terreno junto à Prefeitura do Recife. Naquela época, na Rua Odorico Mendes, só havia casas muito simples. Assim, foi erguida uma palhoça, até ser construída uma sede maior em alvenaria. Depois de duas grandes reformas, o espaço ganhou um primeiro andar e recebeu o nome de Universidade do Frevo Reitor Josabat Emiliano, em homenagem a um de seus ex-presidentes, falecido em agosto de 2016, aos 98 anos.

Alguns clubes carnavalescos criados na mesma época do Clube das Pás eram oriundos de corporações de operários urbanos e impregnados de elementos presentes nas procissões religiosas, que foram proibidos pelas autoridades eclesiásticas. Alguns dos elementos transplantados se encontravam em cordões de lanceiros, mascarados, diabos, balizas, bobos, morcegos e damas de frente. No final do século XIX e início do XX, surgiram no Recife, além do Clube das Pás, os clubes de Carnaval Vassourinhas (1889), Lenhadores (1889), Toureiros de Santo Antônio (1914), Pão Duro (1916), Pavão Misterioso (1919), entre outros. 

O Misto do nome das Pás é porque nesta agremiação podiam brincar homens e mulheres. O clube, que representa o mais tradicional espaço de gafieira de Pernambuco, possui o estandarte mais antigo, datado no início do século XX, possivelmente nos idos de 1910. O responsável pelo desenho foi Manoel de Matos, onde estavam evidenciadas folhas de acanto e outros elementos barrocos, o monograma do Clube, franjas e pingentes dourados, duas máscaras e uma boneca fabricada em porcelana francesa, trazida pelo antigo porta-estandarte, o alfaiate Manuel das Chagas. A confecção, que foi em veludo, acolchoado de algodão, forrado com cetim e bordado com fios de ouro, ficou a cargo das monjas beneditinas do Convento do Monte de Olinda.

O atual estandarte das Pás foi confeccionado por Maria do Monte, uma antiga aluna e bordadeira do mesmo convento de Olinda, em 1980. O desenho tem a figura deum anjo, representada por uma boneca trazida de Portugal. O estandarte traz, ainda, os dizeres “Amor e Ordem”, bordados sobre uma esfera azul que simboliza o globo terrestre. O estandarte pesa cerca de 60 Kg e é conduzido durante o desfile na avenida por três porta-estandartes, que se revezam durante a apresentação na segunda-feira de Carnaval. Em julho de 2007, a Prefeitura do Recife patrocinou a ida de doze integrantes do Clube das Pás para duas apresentações do seu estandarte no Rio de Janeiro, uma em Niterói e outra na Quadra da Mangueira. 

O Clube das Pás tem entre seus dirigentes uma personagem que faz parte da história do carnaval pernambucano. A vice-presidente Josefa Ribeiro da Silva, a Marly das Pás, figura no livro “Sem elas não haveria Carnaval”, de autoria da pedagoga e produtora cultural Claudilene Silva e da historiadora Ester Monteiro. Lançado em 2011 pela Fundação de Cultura da Cidade do Recife, o livro traz depoimentos dessa carnavalesca de 50 anos que faz parte da agremiação há 35. “Aqui tenho minhas amizades, tenho um bocado de ‘filhos’. No Dia das Mães, ganho presentes de todo mundo. Isso é ter carinho. É melhor do que em certas famílias. Aqui já arrumei meu abrigo de velha”, revela ela, sempre sorridente. Há três décadas e meia, Marly está envolvida com os preparativos do Carnaval das Pás. 

Os bailes da agremiação mantém a tradição mais que secular de começar com a execução de três frevos. Afinal, o clube nasceu durante o Carnaval. Depois é que vêm os ritmos mais dançantes, com destaque para as músicas latinas e os boleros. À meia-noite, um breve intervalo para a tradicional valsa, quando os frequentadores costumam festejar seus aniversários. Depois, o baile continua até às 4h da manhã.

robsonouropreto

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