Curiosidade: antigo cassino da Urca tinha “burro vidente”

Em uma época em que os cassinos e jogos de azar ainda eram legalizados no Brasil, um burro conseguiu fazer sucesso ao revelar o futuro – e a sorte – aos apostadores do Cassino da Urca, comandado por Joaquim Rolla. Todas as noites, as pessoas visitavam o estabelecimento de jogos para conhecer o animal vidente, chamado de Canário pelo dono. O burro rondava as mesas de roletas das 23h30 às 00h, religiosamente.
Desde então, muita coisa mudou, a começar pelo fato de que os cassinos foram proibidos. Atualmente, a única opção disponível para os fãs dos jogos de azar no Brasil são as plataformas online que, em geral, também contam com áreas exclusivas para apostas esportivas, oferecendo tudo o que é preciso saber para apostar no Campeonato Carioca, Brasileirão, Libertadores e demais torneios nacionais e internacionais.
Mas, para além disso, também chegou ao fim o mistério que cercava o burro Canário, que de vidente não tinha coisa nenhuma. Tudo não passava de uma farsa orquestrado pelo tratador do animal, que o treinou para responder ao público quando seu mestre realizava determinado sinal. Farsa descoberta, o burro foi enviado para São Domingos da Prata, cidade natal de Joaquim Rolla.
A história do burro Canário e de seu dono está presente no livro “O Rei da Roleta: a incrível história de Joaquim Rolla”, escrito por João Perdigão e Euler Corradi.
O Rei da Roleta
Joaquim Rolla, popularmente conhecido como o Rei da Roleta, foi uma figura célebre da vida social, cultural, empresarial e mesmo política de sua época. Mineiro, nasceu em 1899 e, ao longo de sua vida, passou por diversas profissões: vaqueiro, açougueiro, tropeiro, construtor de estradas.
A vida de Joaquim se transformou completamente em 1933, quando a sorte lhe sorriu e, em um jogo de cartas, ele ganhou parte do Cassino da Urca, que na época estava aos pedaços. Apenas um ano depois, ele já havia se transformando no único dono do estabelecimento e decidiu transformá-lo em um dos mais luxuosos do Brasil.
A vida de Rolla cruzou com diversas personalistas históricas nacionais, indo desde Getúlio Vargas, cuja morte completou 65 anos recentemente, até Carmen Miranda. Foi ao se apresentar no Cassino da Urca, inclusive, que a cantora e atriz portuguesa, mas radicada no Brasil, foi descoberta pelo empresário Lee Shubert, que a levou para os Estados Unidos. Em seu retorno, foi também no Cassino da Urca onde ela foi hostilizada pelo público que passou a considerá-la muito “americanizada”.
A biografia desse personagem tão singular da história nacional foi contada em formato de livro por João Perdigão, de quem Rolla era tio-bisavô, e Euler Corradi. Ruy Castro foi um dos grandes incentivadores da obra.
“No começo, Euler bancou tudo, pois eu não tinha condições de me dedicar à pesquisa e a outra atividade ao mesmo tempo”, explicou João em entrevista. “Em 2007, cheguei a fazer pós-graduação em arte contemporânea. Escrevi um livro sobre a pesquisa e, depois, fomos à casa de Ruy Castro, no Leblon, na época em que ele trabalhava na biografia de Carmen Miranda. Ele nos incentivou muito e nos pôs em contato com a editora. Através da Lei Rouanet, fomos em frente”.
O processo de escrita do livro, releva João, não foi simples. Dezenas de entrevistas foram realizadas, passando por membros da família de Rolla e qualquer outro nome que pudesse ter cruzado a vida do Rei da Roleta. Foi necessário, ainda, uma análise detalhada do material colhido para que as informações fossem consistentes com a realidade.
“Foi um trabalho difícil. Poucas pessoas sabem dessas histórias e, quando sabem, muitas vezes é por meio de outras. Então, fica distorcida. Chegamos a viajar para ouvir as pessoas e, chegando no local, só falaram mentira ou simplesmente informações que já conhecíamos”, relatou João.