As mudanças climáticas emergem como um dos desafios mais prementes que a humanidade enfrenta na atualidade, afetando de maneira abrangente diversos aspectos de nossas vidas. Enquanto as preocupações com o aumento das temperaturas globais, eventos climáticos extremos e o derretimento das geleiras frequentemente ocupam os holofotes, há uma ameaça silenciosa e insidiosa que cresce em paralelo: o impacto das mudanças climáticas na disseminação de doenças, com destaque para a dengue. A médica Dra. Marcela Rodrigues e o médico Dr. Marco César Roque, diretores da Salus Imunizações, compartilham insights sobre os desafios que enfrentamos e a crucial importância da vacinação como uma estratégia fundamental de prevenção.

Dengue: Uma Epidemia em Ascensão

A dengue, uma doença tropical transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, não é apenas uma preocupação localizada, mas uma epidemia global em crescimento. A Organização Mundial da Saúde estima cerca de 390 milhões de infecções por ano, com números em ascensão alarmante.

O Papel Determinante das Mudanças Climáticas na Proliferação da Dengue

As mudanças climáticas desempenham um papel de destaque na expansão da dengue. O aumento das temperaturas e das chuvas intensas cria um ambiente propício para a reprodução do mosquito transmissor. O calor acelera o ciclo de vida do mosquito, permitindo seu desenvolvimento mais rápido e uma maior longevidade. Paralelamente, as chuvas criam poças de água parada, que servem como locais de reprodução ideais para esses mosquitos.

Um Ciclo Vicioso entre Dengue e Mudanças Climáticas

O Dr. Marco César Roque destaca que as mudanças climáticas e a dengue estão intrinsecamente conectadas em um ciclo vicioso. À medida que as temperaturas globais aumentam, os mosquitos proliferam, levando a uma maior disseminação da doença. Por sua vez, a propagação da dengue contribui para a disseminação do mosquito, uma vez que mosquitos infectados podem transmitir a doença para outras pessoas. Esse ciclo contínuo cria um desafio complexo na erradicação da dengue.

Educação como Ferramenta Vital na Prevenção da Dengue

A educação desempenha um papel crucial na prevenção da dengue. Aumentar a conscientização sobre os riscos da doença, seus sintomas e as medidas preventivas, como a eliminação de criadouros de mosquitos, é essencial. Campanhas educativas nas escolas, comunidades e meios de comunicação desempenham um papel fundamental na disseminação de informações vitais e incentivam a participação ativa das pessoas na prevenção da dengue.

Controle Efetivo do Mosquito Aedes aegypti e a Importância da Vacinação

O controle eficaz do mosquito Aedes aegypti é essencial para reduzir a propagação da dengue. Medidas como a eliminação de recipientes que acumulam água parada, o uso de mosquiteiros e telas em residências e a aplicação de larvicidas são estratégias cruciais.

Diante deste cenário preocupante, a vacinação emerge como uma estratégia crucial para o controle da dengue. A vacina oferece proteção contra os quatro sorotipos do vírus, reduzindo a gravidade dos sintomas e prevenindo complicações graves. É fundamental que as autoridades de saúde priorizem a disponibilidade e o acesso à vacina para populações em risco.

Em março, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o registro de uma nova vacina contra a dengue, aplicável em pessoas com idades variando entre 4 e 60 anos, independentemente da exposição anterior à doença. Esta vacina, conhecida como QDENGA®, representa um marco significativo na luta contra a dengue, eliminando a necessidade de testes pré-vacinação.

Dra. Marcela Rodrigues ressalta: “A dengue e as mudanças climáticas representam uma dupla ameaça à saúde global. As mudanças climáticas estão impulsionando a propagação da dengue, enquanto a dengue, por sua vez, contribui para a disseminação do mosquito vetor. Para enfrentar com sucesso essa preocupante situação, é essencial adotar abordagens integradas que englobem educação, controle do mosquito e, de extrema importância, a vacinação. Somente por meio de ações conjuntas e compromisso global podemos efetivamente enfrentar a ameaça da dengue.”