Mega mural da Conde da Boa Vista destaca importância das mulheres com o tema “Vida longa ao ventre forte”

 Mega mural da Conde da Boa Vista destaca importância das mulheres com o tema “Vida longa ao ventre forte”

A fachada de um dos endereços mais tradicionais da Avenida Conde da Boa Vista, o Edifício Canadá, terá o primeiro mega mural grafitado por uma mulher em Pernambuco. 

 

A obra, assinada pela artista Ranne Skull, será a segunda intervenção do Projeto Primeiro a Infância, realizado pela Agência Recife para Inovação e Estratégia (ARIES), com financiamento da Fundação Bernard van Leer e em parceria com a Prefeitura do Recife, através da Secretaria Executiva de Inovação Urbana. 

A avenida já conta com o primeiro mega mural, no Edifício Suape, uma obra de Manoel Quitério, entregue em setembro de 2021.

“A proposta da ARIES é transformar a Conde da Boa Vista, um dos principais corredores viários do coração do Recife, em um espaço de reflexão a partir da arte urbana, para causar impacto e transmitir mensagens, provocando reflexões e debates sobre a cidade”, destaca o presidente da Organização Social, Marcos Baptista. 

 

A parceria com a Prefeitura do Recife veio através da viabilização do prédio e da infraestrutura necessária para a execução da obra, incluindo a projeção. “O poder público vem dialogando com artistas locais e fomentando arte urbana em espaços públicos da cidade através de critérios de paridades gênero e racial. Este é o segundo mega mural que promovemos na cidade e o primeiro assinado por uma mulher, a ideia é expandir cada vez mais para que mais mulheres ocupem esses espaços”, completa Marcos Toscano, secretário executivo de Inovação Urbana.

 

A arte é composta por elementos que permite diversas leituras e identificações, para Ranne, a intenção é que sua obra possa acrescentar coisas positivas no coração das pessoas. “Retratei a primeira infância, a partir de um tema muito importante que é a desigualdade social da nossa cidade. 

A obra traz uma sereia, que é Oxum, padroeira do Recife, orixá responsável em ser a guardiã das crianças e também orixá dos rios, tendo em vista que o Recife é cortado por vários rios que vão de encontro ao mar. Ela está amamentando e erguendo um barquinho que tem o menino Miguel. Nesse barco tem escrito “Miguel vive” porque retrata um dos aspectos da desigualdade social, um menino negro de origem periférica que perdeu a vida dentro de um contexto de classe média alta”, acrescenta Ranne.

A artista e letrista Bruna, conhecida como Bubu, foi convidada para participar de toda a execução da obra, desde a concepção até a pintura. Essa é a primeira vez que uma grafiteira e uma pixadora se juntam para a execução de uma empena na cidade do Recife. “Por ser letrista e por ser mulher é muito difícil ocupar certos espaços, principalmente com essa estética de pixadora, que poucos conseguem identificar e ler o que eu quero passar. 

Aqui, neste mega mural, eu tive a oportunidade de inserir a estética da letra, inclusive no céu e na maré. Estou muito feliz de trazer essa obra para a cidade”. O artista Julio Insano, também foi convidado por Ranne e teve a sua obra representada pelas palafitas e os prédios na montagem do croqui, que foi inserida no resultado final. 

Ranne, Bubu e Julio têm origem da Favela do Bode, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife. 

O menino Miguel Otávio Santana da Silva, de cinco anos, morreu em junho de 2021, quando estava aos cuidados da patroa da sua mãe e caiu do nono andar de um prédio de luxo no Recife, o caso repercutiu nacionalmente e perdura até hoje na justiça. A mãe da criança, Mirtes Renata de Souza, ficou emocionada ao saber da referência do seu filho no mega mural. “Esse trabalho que vocês estão desenvolvendo é uma força para minha luta pela justiça, porque desde o começo eu disse que ia mover céus e terra para que o caso de Miguel não fosse esquecido. Esse megamural vai contribuir para que o caso dele seja sempre lembrado. Para mim é muito importante ter o nome e o rostinho do meu filho estampado ali”, reforçou a mãe de Miguel.

A obra também faz referências às palafitas, ao brincar infantil em realidades sociais desiguais e traz homenagens a mulheres, inclusive na frase “Vida longa ao ventre forte”, porque de acordo com a autora, “a mulher é a base, o pilar de tudo. Também na cauda da sereia estarão escritos nomes como Irmã Dulce, Maria da Penha e Marielle”, complementa a artista que realiza uma homenagem à diversidade de lutas que crescem pelas vozes das mulheres.

 

mmscriacoes

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