Nordeste segue sendo o calo de Bolsonaro, dizem pesquisas

 Nordeste segue sendo o calo de Bolsonaro, dizem pesquisas

No primeiro turno das eleições presidenciais, Bolsonaro perdeu em todos os estados do Nordeste, enquanto Haddad liderou e só perdeu para Ciro no Ceará. Arte: Keops Ferraz

A região foi uma das responsáveis por frear a liderança de Bolsonaro e levar a disputa presidencial para o segundo turno
O desafio de conquistar o Nordeste ficou maior para o deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), líder nas demais regiões. A poucas horas de o Brasil conhecer seu próximo presidente, os olhos estão especialmente voltados para os votos dos nordestinos, responsáveis, ao lado de São Paulo, por frear o avanço de Bolsonaro e levar a disputa ao segundo turno. Apesar de reforçar o discurso de unidade entre os estados e adotar o chapéu sertanejo em algumas propagandas, ele não conseguiu avançar na região.
De acordo com a mais recente pesquisa Datafolha, o candidato à Presidência Fernando Haddad ampliou a vantagem no Nordeste e agora aprece com 59% dos votos totais contra 29% de Bolsonaro. Na sexta, o instituto mostrava que Haddad tinha 56% das intenções e 30% Bolsonaro. O grau de confiança das pesquisas é de 95%. Já o Ibope indicou que o petista tem 65% dos votos válidos, cálculo em que os brancos e nulos não são contabilizados. Já Bolsonaro aparece 35% das intenções.
Apesar de ter conseguido avançar em praticamente todos os segmentos, o Nordeste permanece como um dos calos do capitão. Segundo a cientista política Priscila Lapa, Bolsonaro tentou se aproveitar de dois aspectos para conquistar o eleitorado nordestino durante a campanha: o aumento da violência nas médias e pequenas cidades e a queda do poder econômico da classe C, que entrou em ascensão nos governos petistas, mas teve a renda média reduzida em 10% com a recessão. Com discurso direcionado a esses dois nichos, Bolsonaro conseguiu se inserir, embora não majoritariamente, entre o eleitorado que antes fazia parte das bases eleitorais de maioria lulista.
“Os pequenos centros urbanos não sofriam tanto com violência e passaram a ser muito afetados, com os assaltos a caixas eletrônicos e a migração de quadrilhas organizadas. Ele trabalha fortemente essa bandeira da segurança e no Nordeste isso é determinante. Com relação à classe C, vemos que ela atrela as perdas recentes ao governo do PT.  Isso se soma à corrupção e o eleitor dessa classe atribui tudo ao PT e passa a ver em Bolsonaro uma perspectiva de mudança”, avaliou Priscila Lapa.
O cientista político Rudá Ricci citou ainda outra estratégia para o Nordeste: a união com igrejas pentecostais e neopentecostais. “O acordo com lideranças dessas igrejas, principalmente as estruturadas nacionalmente, foi um momento decisivo após a facada em Bolsonaro, período em que ele cresceu por causa da comoção. Houve a entrega de uma lista pelo WhatsApp em que os pastores e religiosos pediam votos para o militar e isso teve muita repercussão. Foi feita uma campanha de medo e as pessoas começaram a ficar com receio de não eleger Bolsonaro”, afirmou Ricci. Alinhado com essa tática, o discurso de Bolsonaro passou a atacar as questões mais sensíveis à religião, como o feminismo e o movimento LGBT. “Naquele momento, a campanha passou a ser uma guerra santa. Essas mensagens se alastraram e isso mudou a vida política do candidato”, acrescentou o analista.
Embora não tenha maioria no Nordeste, Bolsonaro figura como líder nas pesquisas nacionais — figurando com 54% dos votos válidos, de acordo com o Ibope — e já se posiciona como eleito. Segundo o professor de ciência política da Universidade Federal de Campina Grande Leon Victor de Queiroz, uma das dificuldades de Haddad no segundo turno foi ter ficado sem palanque nos estados após o primeiro turno. “Como a maioria das campanhas a governador que apoiava Haddad já venceu no primeiro turno, ficou um pouco mais difícil mobilizar o eleitorado. Por isso, Haddad escolheu estados do Nordeste para terminar a campanha. Ele precisa do apoio maciço do Nordeste”, acrescentou.

Figura agressiva e de ordem de Bolsonaro tem espaço na cultura brasileira

Bolsonaro apareceu como uma figura que embaralhou análises de cientistas políticos. Polêmico, ele surpreendeu nos números. Quando se lançou na disputa e começou a ser chamado de “mito” por seguidores, houve quem dissesse que após a prisão do ex-presidente Lula a força do capitão iria murchar. Mas o capitão do Exército cresceu ,e neste domingo, tem chances de ser eleito o Presidente da República. Mas o que pode ter provocado a ascensão nas intenções de voto em benefício dele?
De acordo com o cientista político Rudá Ricci, com um discurso de ordem, agressivo e de tolerância zero para os problemas do país, Bolsonaro se assemelha à figura do pai severo dentro da cultura patriarcal, lembrando um pouco a lógica cristã de base. “O brasileiro de classe média pensa que tudo é ordem. Não gosta de greve.  Quando há protesto em rodovia, acha que vai vencer pelo trabalho. E, de alguma maneira, Bolsonaro está falando de ordem”, aponta. A cientista Priscila Lapa acredita que outra questão que influencia é o fato de o eleitorado depositar todas as fichas em um pretenso salvador da pátria. “Bolsonaro traz o medo, o ódio, e as pessoas estão votando com raiva. Juntou a fome com a vontade de comer. Isso gera uma repercussão emocional grande”.
Pesquisas realizadas pelo Datafolha nesse sábado mostram que o eleitorado está raivoso, desestimulado e com receio do futuro. Entre os entrevistados, 59% disseram estar com raiva enquanto 35% se classificaram como tranquilos. Quando o questionamento foi sobre estado de ânimo, 72% disseram estar desanimados, 26% estão animados e 2% não souberam definir. A maioria (53%) também sustentou temer pelo futuro.

robsonouropreto

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