Polícia apura maior esquema de rachadinha da história de Goiás Organização criminosa teria infiltrado prefeituras por mais de 20 anos, usando pequenos partidos para desviar salários de comissionados.
Organização criminosa teria infiltrado prefeituras por mais de 20 anos, usando pequenos partidos para desviar salários de comissionados.

Um dossiê obtido com exclusividade por nossa equipe revela o que pode ser o maior e mais antigo esquema de rachadinha no Estado de Goiás, operado de forma contínua há pelo menos duas décadas por um núcleo criminoso que usou pequenos partidos políticos como fachada para acessar cargos públicos em diversas cidades.
Segundo fontes e documentos em poder das autoridades, o esquema seria comandado por Vanessa Barros, Santana Pires, Claudivino e Júnior Café — todos com passagens estratégicas por administrações em Goiânia, Anápolis, Senador Canedo e Trindade.
O “modus operandi”: partidos entregues em troca de cargos
A quadrilha teria se especializado em cooptar diretórios de pequenos partidos e utilizá-los como moeda de troca com prefeituras, entregando apoio político e estrutura partidária em troca de cargos comissionados, que eram ocupados por aliados dispostos a devolver parte dos salários — o famoso esquema de “rachadinha institucionalizada”.
Os comissionados nas prefeituras não apenas prestavam apoio, mas eram indicados como parte do pagamento político pela cessão do controle partidário, algo que se repetiu em diversas gestões, de forma silenciosa e sistemática.
O núcleo do esquema
Vanessa Barros, ex-dirigente partidária, é esposa de Santana Pires e seria a responsável direta pelas negociações partidárias e pelas indicações. Santana Pires, considerado o cérebro financeiro da organização, atuava como operador de bastidores, movimentando recursos e usando empresas de fachada, inclusive uma registrada em nome de um lava-jato, para desviar e lavar dinheiro público.
Claudivino era apontado como executor e beneficiário de diversos cargos estratégicos, nomeado repetidamente em diferentes prefeituras.
Júnior Café, segundo fontes, era homem de confiança de Santana Pires e seria o responsável pela cobrança dos valores dos servidores. Os repasses eram feitos para contas bancárias vinculadas ao grupo, além de confissões de envolvidos que relatam saques em espécie e entregas em mãos diretamente ao “dono” do cargo — Santana Pires, marido da dirigente Vanessa Barros.
Confirmações e provas
Interceptações telefônicas, movimentações bancárias atípicas e documentos apreendidos revelam a existência de planilhas de controle dos salários desviados, além de conversas que sugerem extorsão direta de comissionados.
Depoimentos colhidos até o momento apontam que parte do salário era sacada em dinheiro vivo e entregue mensalmente ao responsável político da vaga, como forma de manter o cargo.
Cidades atingidas
Em Goiânia, o grupo teria envolvimento com indicações políticas no âmbito da Câmara Municipal e secretarias. Em Anápolis, a denúncia é de cargos fantasmas e contratos com OSCs ligadas a parentes dos investigados. Senador Canedo e Trindade aparecem como bases do grupo, onde as estruturas partidárias foram usadas para negociar espaços no alto escalão da administração pública.
A investigação: DERCAP na linha de frente
A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (DERCAP), com apoio do Ministério Público Estadual e da Controladoria-Geral do Estado, comanda uma força-tarefa que já solicitou quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico dos envolvidos.
Relatórios internos revelam que o grupo atuava com extrema cautela, operando via laranjas, empresas de fachada e ocultação patrimonial. Em um dos casos, um servidor com salário de R$ 8.000 devolvia R$ 3.500 em espécie todo mês.
Crimes investigados e punições possíveis
Se comprovado, o grupo poderá responder por organização criminosa, corrupção ativa e passiva, peculato, concussão, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e improbidade administrativa.
A reportagem tentou contato com os citados, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
Conclusão: um câncer silencioso no serviço público
As investigações expõem uma estrutura criminosa camuflada sob o discurso da representatividade partidária, que ao longo de anos comprometeu recursos públicos e enfraqueceu o serviço prestado à população.
Até agora, a expectativa é de que, além de buscas e apreensões, também haverá prisões dos principais envolvidos, à medida que as provas forem consolidadas e novas delações forem homologadas.