Preço Importa?

Uma das frases mais mal interpretadas que abastece uma antiga polêmica no mercado financeiro. Meu objetivo com esse texto é compartilhar meu ponto de vista acerca de uma discussão homérica quando o assunto é investimento em ações.
Vou fazer isto de forma objetiva, em sinal de protesto – acredito que a discussão tem MUITO mais atenção do que merece.
A pergunta de 1 bilhão de dólares: Preço, importa?
De antemão, deixo registrado: a pergunta é pouco inteligente.
Como assim?
Para entender o debate, existem basicamente duas correntes:
1. Uma que diz que ao longo do tempo o preço não importa, uma vez que ao fazer vários aportes em um ativo você irá diluir o efeito timing da melhor compra (até porque é utópico acertar sempre os melhores preços de entrada para um ativo de renda variável – existem vários estudos que comprovam isso).
Para esta corrente, não há grande prejuízo em estimar um lucro futuro de uma ação em R$100,00 para um determinado período, e este lucro for, digamos, R$ 98,00. Isto não deve representar um impacto significativo para o(a) investidor(a) se ele(a) fizer vários aportes ao longo do tempo, sobretudo com uma boa margem de segurança.
Ou seja, uma vez que o investidor(a) identifica uma boa empresa, ele(a) pode comprar ações desta empresa a (quase que) qualquer cotação/preço, pois ao longo do tempo, através de aportes recorrentes, o investidor(a) irá obter retornos atrativos. A lógica é defendida pela premissa de que os preços acompanharão os lucros das ações no longo prazo.
Um boa empresa é, dentre outras coisas, uma empresa lucrativa.
2. Do outro lado, há o time que defende que é sim importante avaliar se é uma boa empresa, mas não apenas isso. Deve-se avaliar se está barata no momento em que o(a) investidor(a) está considerando adquirir algumas de suas ações.
Fica então a dúvida: qual corrente está certa?
Nenhuma.
A questão é que a pergunta é mal formulada.
“Importar” é uma expressão muito forte para escolhermos um único lado – ou importa ou não importa. Como diriam os Americanos, “no sense“.
Alguém lançou esta pergunta lá atrás e insistimos em investir horas nesta discussão ilógica.
Para qualquer papel na bolsa, ninguém topa pagar o triplo do preço atual (na verdade, isto serve para qualquer ativo na economia).
“Importar“, é claro que importa.
Porém, pergunto: É essencial para obter sucesso ao longo do tempo para o i) investidor de longo prazo que ii) busca empresas com bons fundamentos e que iii) faz aportes com regularidade? Talvez não.
Importa, mas não determina o sucesso no longo prazo.
Volto ao Sr. Buffet.
Nós não tomamos nossas decisões baseados em preços, mas sim em valor percebido. Um buquê de rosas vale R$ 50,00 reais em um dia comum e passa a valer R$ 100,00 no Dia dos Namorados. Oferta e Demanda, assim funciona. Logo, cotação/preço tende a seguir percepção de valor.
Minha leitura pragmática sobre o assunto:
Preço é cotação, cotação segue lucro e lucro é fundamento. No fim, os fundamentos prevalecem.
Preço pode não ser determinante, mas do meu ponto de vista, importa sim.
No final do dia, repito: a pergunta é que é mal formulada.
Preço importa, lucro importa, geração de fluxo de caixa livre importa, gestão importa, estrutura de endividamento importa, market share importa, concorrência importa, capacidade produtiva importa, know-how importa…Todos estes elementos são importantes. Com preço, não é diferente.
Para você, desejo bons investimentos.
Isso é o que importa 😉
Abraços,
Arthur Lemos