Sambada celebra o legado de Dona Glorinha do Coco e movimenta os festejos juninos em Olinda

Com participação de Lia de Itamaracá e das Filhas de Baracho, a 18ª edição da festa acontece nesta sexta (27), na Rua dos Pescadores, em Amaro Branco.

 Sambada celebra o legado de Dona Glorinha do Coco e movimenta os festejos juninos em Olinda Com participação de Lia de Itamaracá e das Filhas de Baracho, a 18ª edição da festa acontece nesta sexta (27), na Rua dos Pescadores, em Amaro Branco.

Nesta sexta-feira (27), a partir das 19h, o bairro do Amaro Branco, em Olinda, recebe a 18ª Sambada de Dona Glorinha do Coco, que presta uma homenagem à saudosa mestra Dona Glorinha do Coco,  figura icônica da cultura popular pernambucana. A programação conta com apresentações do Coco do Amaro Branco, Cila do Coco, Seu Gervásio, Mestre Viola Luz, Coco da Resistência, Coco do Pneu, Raízes do Amaro Branco, este último, um coco jovem, formado por Heloisa Braz, que tem apenas 17 anos e é também neta de Dona Glorinha; além da participação especial das Filhas de Baracho e Lia de Itamaracá. O encontro acontece na Rua dos Pescadores e o acesso é gratuito e aberto ao público em geral.

A festa é uma reverência à mestra Dona Glorinha do Coco, que faleceu em março do ano passado,  aos 89 anos, deixando um legado valioso, incluindo a tradicional sambada junina que acontece há 18 anos na Rua dos Pescadores. Muitos mestres, mestras e brincantes passaram por lá, alguns deles já cantam no céu, a exemplo de Pombo Roxo, Mestre Ferrugem, Mestre Dédo, Mestra Beata, Aurinha do Coco, Margarida Sambão e Dona Ritinha da Garrafa.

Apesar da ausência deles, a sambada continua com as gerações atuais, familiares de Dona Glorinha, sob a produção de Isa Melo, diretora da Coco Produções que, esse ano, conta com apoio da Fundarpe e da Prefeitura de Olinda, além do incentivo da PNAB – PE, através do projeto aprovado por Renata Braz, neta de Dona Glorinha do Coco. Renata é uma das responsáveis pela festa, acompanhando os passos da avó e buscando meios para dar continuidade ao legado que tem importância simbólica e afetiva para a comunidade do Amaro Branco.

Para a produtora Isa Melo, o evento também tem uma pegada que movimenta a economia criativa na comunidade e entorno. “É um movimento importante que gera renda para os pequenos comerciantes e mantém viva uma tradição que faz do bairro uma referência do coco de roda em Pernambuco”, destaca.

A presença especial de Lia, Biu e Dulce, comadres de Dona Glorinha do Coco que estiveram juntas com a mestra em diversas ocasiões, como nas ações culturais do Centro Cultural Estrela de Lia, no Festival O Canto da Sereia e em iniciativas como o Encontro de Comadres, do SESC/PE; fortalecem e honram à memória de Dona Glorinha. “É um momento único na sambada que, pela primeira vez, abre a roda para a ciranda num laço coletivo entre os brinquedos que se unem para celebrar a vida, a alegria e a cultura pernambucana. A festa visa preservar a tradição da sambada junina e celebrar o legado deixado por Dona Glorinha”, comemora Isa.

Sobre a mestra Dona Glorinha do Coco – Nome artístico de Maria da Glória Braz de Almeida, uma das principais guardiãs e propagadoras do coco de roda em Olinda, Pernambuco. Nascida no bairro do Amaro Branco, Glorinha foi neta e filha de mulheres que marcaram a cultura local — sua avó Joana, que fugiu da escravidão no século XIX, e sua mãe Maria Belém, cofundadora de grupos como o Acorda Povo e o Clube da Escola de Samba Oriente.

Iniciou no ritmo aos sete anos, subindo em um tamborete para acompanhar a mãe nos cânticos sem microfone, usando apenas a voz e os tamancos de madeira. Durante décadas, manteve as rodas de coco, especialmente no ciclo junino, realizando sambadas em frente à sua casa e reunindo a comunidade de Amaro Branco — programação que se tornou ponto cultural reconhecido.

Discos lançados na terceira idade

Em 2013, aos 78 anos, lançou seu primeiro álbum independente, Dona Glorinha do Coco, com 13 faixas que homenageiam sua mãe; o disco foi finalista no Prêmio da Música Brasileira (2015), nas categorias Melhor Álbum Regional e Melhor Cantora Regional Com esse disco, representou a cultura brasileira em Portugal (Espaço Brasil, Lisboa) e se apresentou em Cuba.

Em 2019, lançou Noite Linda, aos 84, com nove composições — produto de um prêmio cultural do Ministério da Cultura.

Participou do documentário O Coco, a Roda, o Pneu e o Farol (2007) de Mariana Fortes, e de diversas exposições fotográficas e culturais em Recife e Olinda, como Coco do Amaro Branco – Retratos.

Prêmios e reconhecimento

Finalista do Prêmio da Música Brasileira (2015).

Recebeu a Medalha das Heroínas de Tejucupapo (2021) como reconhecimento por sua defesa da cultura popular.

Agraciada com o Prêmio Ariano Suassuna de Cultura Popular (2017), reforçando sua importância para.

A Prefeitura de Olinda decretou luto oficial de três dias após seu falecimento em 29 de março de 2024, aos 89 anos

A Secretaria de Cultura de Pernambuco destacou sua vital importância como símbolo de resistência da cultura popular pernambucana.

A Mestramanteve viva a tradição que recebeu da mãe, transmitindo-a a netos, bisnetos e tataranetos, incluindo sua neta Renata, que será a herdeira do seu “anel de coquista”.

Gerou impacto comunitário com rodas de coco que fortaleciam identidade, lazer e pertencimento em Amaro Branco.

Dona Glorinha do Coco foi uma figura central da cultura tradicional pernambucana, unindo ancestralidade, música, dança e comunidade. Iniciada na tradição por sua avó e mãe, ela foi a última grande mestra da roda de coco de Amaro Branco, representando resistência cultural e legado artístico. Seus discos tardios, suas apresentações nacionais e internacionais, e os prêmios conquistados são testemunho de sua importância excepcional para a cultura brasileira.

SERVIÇO:

O QUE? 18ª Sambada de Dona Glorinha do Coco,

LOCAL: Rua dos Pescadores, 266 – Amaro Branco, em Olinda

DATA: 27 de junho de 2025 (sexta-feira)

HORÁRIO: a partir das 19h

ENTRADA GRATUITA

Céu Albuquerque

Jornalista, Escritora, Pesquisadora e Fotógrafa.

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