Coluna do Dia – Jamais abandonar o navio – Por Paulo Henrique Machado

 Coluna do Dia – Jamais abandonar o navio – Por Paulo Henrique Machado

Paulo Henrique Machado

Estava eu, há pouco, conversando com a técnica de enfermagem que fazia o procedimento de aspiração traqueal em mim. Ela dizia que, em breve, pretende “dar um jeito” em sua vida e que não poderia continuar da maneira que está. Entendi então que ela tem a intenção de deixar o trabalho.

Paulo Henrique Machado

*Paulo Henrique Machado

Naquele instante refleti e concluí que todos vão embora, menos eu. Ela então disse que Eliana vai ficar, mas como sei que o maior sonho de Léca é também ir embora, repeti a conclusão inicial: todos vão embora, menos eu. Foi quando ela apontou o dedo para mim e disse que eu escolhi ficar aqui.

Bem, eu falei em alto e bom tom que não quero abandonar o barco. Jamais! Naquele momento, me senti no Titanic prestes a afundar. Descendo as profundezas do desconhecido e sendo esquecido pelo tempo.

Não me lembro se em todos esses anos de coluna eu falei sobre o filme “The Legend of 1900” ou “A Lenda do Pianista do Mar”, que assisti há um tempo. Acredito que tenha sido logo no início da década de 2000, pois esse filme foi produzido em 1998.

Dirigido por um diretor italiano, Giuseppe Tornatore, ele conta a história de um músico contratado para tocar em uma banda de jazz num transatlântico. Lá, ele se envolve na história das pessoas que trabalham nas viagens de grandes magnatas e apostadores de jogos de azar.

Durante as viagens, esse rapaz vê em cenas, imagens contadas por aqueles que o cercam, e o que mais lhe chama atenção, é um caso de um rapaz que lhe conta sua história que se passou naquele navio durante muitos anos no convívio com empregados, camareiras e faxineiros que trabalhavam a serviço dos clientes exigentes.

A música dominava as noites glamourosas –o jazz era o estilo apaixonante de uma época ainda inocente. Essa criança, crescendo e sendo educada por muitos, pois sua mãe falecera assim que ele nasceu, acaba sendo mestre no piano, dando mais vida a banda que alegremente enchia o ambiente.

Os anos passaram e um destino nefasto foi dado ao grande navio. A prefeitura da cidade resolve implodi-lo devido a sua avançada idade e muito cara manutenção. Foi dado um aviso para que todos que trabalhavam no navio o abandonasse, pois em breve seu destino será selado.

Com muita dor, todos partem com lágrimas em suas faces, algo muito dolorido deixado para trás de décadas vividas.

Apenas este que teve toda sua vida dentro de um grande navio decide permanecer dentro de sua verdadeira moradia, sendo este o lugar que jamais deixou.

Assim é minha vida. Não vejo motivos para daqui sair em busca de outra vida. Tenho muitos sonhos sim, um deles, deveras até bem distante, é um dia poder passar uma semana em uma cidade que aos meus olhos, é encantadora. Gosto muito de cores, luzes e sabores e lugares cheios assim de pessoas ao redor, me fascinam. Assim, quero poder um dia conhecer a Times Square, em Nova York. Mas como eu disse, apenas passar uma semana e não me ausentar para sempre.

Sim, acredito muito que tudo muda, as vidas mudam, e a minha vida não foge às regras. Pode ser que sim, um dia, algo transforme tudo ao meu redor, porém, espero que venha com muita segurança e grande saúde.

Começamos 2018 com grande força, já a primeira semana se foi e, para mim, sinto-me com certa luz intensa dentro de mim, que na ansiedade, busco oportunidades boas para eu me envolver e, hoje, começo meu dia na conquista de minha felicidade.
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Paulo Henrique Machado é morador do Hospital das Clínicas de SP desde 1 ano de vida, quando contraiu poliomielite. Escreve sobre como tudo chega até ele, o que aprendeu e o que observa de cada situação.

Edição PE NEWS: Geibson Almeida

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