Dicas do Butantan para Prevenir o Aparecimento de Escorpiões em Sua Casa
O aumento dos acidentes com escorpiões tem gerado preocupação em diversas regiões do Brasil, sendo o estado de São Paulo um dos mais afetados. Somente nos primeiros sete meses de 2023, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo registrou mais de 24 mil casos, representando um aumento de 13% em comparação ao mesmo período de 2022. Para enfrentar esse desafio, o Instituto Butantan oferece dicas essenciais para prevenir o aparecimento desses aracnídeos em sua casa.
A expansão urbana e as altas temperaturas têm contribuído para o aumento do aparecimento de escorpiões nas cidades. No entanto, existem medidas específicas que podem ajudar a evitar o encontro indesejado com esses animais no quintal de casa e até mesmo em ambientes internos.
Os escorpiões têm preferência por locais quentes e úmidos, onde encontram os quatro elementos essenciais para a sobrevivência: alimento, água, abrigo e acesso. O lixo, por exemplo, atrai baratas, que servem de alimento para os escorpiões. Para abrigo e acesso, esses aracnídeos buscam entulhos e infiltram-se em redes de esgoto, tubulações de água e de energia, que oferecem ambientes escuros e úmidos.
Denise Maria Candido, bióloga e assistente técnica de pesquisa científica e tecnológica do Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan, enfatiza a importância do controle e dos cuidados necessários. Ela explica que, embora os escorpiões desempenhem um papel vital no equilíbrio ecológico como predadores de outros seres vivos, é crucial adotar medidas preventivas para evitar sua proliferação nas áreas urbanas e prevenir acidentes.
O Brasil abriga quatro espécies de escorpiões considerados de interesse médico devido à maior quantidade de acidentes: o escorpião-preto-da-Amazônia (Tityus obscurus), comum na região Norte e no estado do Mato Grosso; o escorpião-amarelo-do-Nordeste (Tityus stigmurus), que também tem sido avistado em estados como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Tocantins; o escorpião-marrom (Tityus bahiensis), frequente nas regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul; e o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), com ocorrência em todas as regiões do país, embora ainda restrito em Tocantins.
O manejo desses animais não é recomendado devido ao risco de acidentes. Portanto, ao encontrar um escorpião em casa, é fundamental adotar precauções antes de tomar qualquer medida. O uso de luvas de vaqueta ou couro, botas ou sapatos fechados e até mesmo perneiras é essencial para evitar picadas. Luvas de borracha e sapatos de pano são frágeis e não oferecem proteção adequada.
Denise aconselha: “As pessoas nunca devem manusear os escorpiões. Caso seja necessário, o animal deve ser manipulado com um graveto longo ou uma pinça anatômica de 30 centímetros para ser colocado em um recipiente. Em seguida, o escorpião deve ser levado ao Centro de Controle de Zoonoses do município.“
Mas como evitar o aparecimento de escorpiões em sua residência? É crucial manter os ambientes limpos, evitando o acúmulo de lixo, entulho, folhas secas e materiais de construção. Qualquer buraco no chão ou na parede pode servir de esconderijo, assim como roupas sujas ou molhadas espalhadas pelo chão. Como esses aracnídeos são noturnos, é raro encontrá-los durante o dia, o que torna mais difícil detectá-los.
Para evitar o aparecimento de escorpiões, é aconselhável:
- Manter o lixo devidamente acondicionado para evitar a proliferação de insetos, que servem de alimento para os escorpiões.
- Manter quintais e jardins limpos, evitando o acúmulo de entulhos, folhas secas, lixo doméstico e materiais de construção.
- Evite que folhagens densas, como trepadeiras, arbustos ou plantas ornamentais, encostem em paredes e muros.
- Vedar portas com soleiras ou saquinhos de areia.
- Utilizar telas nas janelas.
- Manter os rodapés íntegros e bem pregados nas paredes.
- Vedar todos os ralos com tapetes de borracha ou modelos de abre e fecha.
- Não deixar roupas sujas ou molhadas no chão.
- Ao calçar um sapato, agitá-lo antes para evitar surpresas.
- Evite que camas e móveis encostem nas paredes.
- Não deixar roupas de cama e mosquiteiros encostadas no chão.
- Manter todos os buracos nas paredes, como espelhos de tomadas, cabos e caixas de luz, devidamente fechados.
É importante destacar que, embora exista o mito de que as galinhas são eficazes no controle de escorpiões, essa prática é ineficaz. Além disso, criar galinhas na cidade sem autorização das autoridades sanitárias é proibido. Estudos demonstram que, embora as galinhas sejam predadoras naturais dos escorpiões, o veneno desses aracnídeos não causa malefícios graves nas aves. No entanto, as galinhas podem acarretar outros problemas de saúde pública, como o acúmulo de fezes que é um reservatório do inseto flebotomíneo, transmissor da leishmaniose.
Durante a temporada de escorpiões, que ocorre nos meses mais quentes, de setembro a fevereiro nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, é essencial adotar medidas de prevenção rigorosas. Nos estados do Norte e Nordeste, que têm climas predominantemente mais quentes, o aparecimento desses aracnídeos é constante durante todo o ano.
Os escorpiões se reproduzem rapidamente, gerando entre 20 e 25 filhotes em cada gestação, que pode ocorrer duas vezes por ano, com uma expectativa de vida média de quatro anos. As fêmeas de escorpião-amarelo e escorpião-amarelo-do-Nordeste se reproduzem por partenogênese, o que significa que não precisam acasalar para dar à luz.
Em caso de picada, os acidentes com escorpiões podem variar de leves a graves. O veneno desses aracnídeos afeta o sistema nervoso, causando dor intensa no local da picada, que pode se espalhar por todo o membro. Além da dor, os sintomas podem incluir suor excessivo, vômito e taquicardia em casos moderados. Nos acidentes graves, além da dor intensa, podem ocorrer salivação, insuficiência cardíaca, edema pulmonar e, em casos extremos, até mesmo a morte.
Em caso de picada, a primeira ação a ser tomada é lavar o local com água e sabão e aplicar uma compressa de água quente para aliviar a dor. Em seguida, é fundamental procurar atendimento médico. A lista das unidades de saúde de referência para acidentes com animais peçonhentos pode ser encontrada no site do Ministério da Saúde.
Os casos leves e moderados podem ser tratados com infiltração de anestésico. Se necessário, o médico pode optar pelo uso do soro antiaracnídico e antiescorpiônico, produzidos pelo Instituto Butantan. É importante ressaltar que apenas um médico qualificado pode avaliar a gravidade do acidente e a necessidade de uso do soro. O Instituto Butantan dispõe de um hospital especializado no atendimento a envenenamentos por animais peçonhentos, o Hospital Vital Brazil, localizado no Parque da Ciência, na cidade de São Paulo.