Messiah – 1º Temporada | Crítica

 Messiah – 1º Temporada | Crítica

Messiah/Netflix – Reprodução

O serviço de streaming Netflix aposta na polêmica como uma de suas estratégias para chamar a atenção e conquistar novos assinantes. O caso mais recente teve foco no Brasil, com o lançamento, em 03 de dezembro de 2019, do curta de humor ‘Especial de Natal Porta dos Fundos: A Primeira Tentação de Cristo‘. Por um lado, a Justiça do Rio de Janeiro determinou a retirada do vídeo do catálogo da empresa, em decisão revertida pelo Supremo Tribunal Federal em favor do Netflix. Entre muitos protestos, a Polônia exigiu o mesmo. O prédio da produtora do Porta dos Fundos sofreu um atentado e o suspeito do ataque fugiu para a Rússia. Por outro lado, o grupo do humor recebeu um Emmy Internacional de Melhor Comédia pelo lançamento anterior e igualmente polêmico, “Se Beber, Não Ceie“, da mesma plataforma de vídeos.

É nesse cenário controverso que a Netflix lançou globalmente a série Messiah, no primeiro dia de 2020. Um drama de suspense e intrigas políticas e religiosas, com dez episódios, que sugere, com muita cautela, como seria a segunda vinda do Messias, Jesus Cristo, para os dias de hoje. O criador da trama, roteirista e produtor Michael Petroni, opta por misturar elementos de séries como Homeland (2011-2020), Tyrant (2014-2016) e Fauda (2015-2020), leituras bíblicas, em especial, o Livro do Apocalipse (das Revelações), de João de Patmos e interpretações de como seria o Jesus Histórico, longe de influências eurocêntricas de retratar um Jesus de aparência europeia, como um homem branco, loiro ou ruivo e de olhos claros. Por isso, a escolha do ator belga, de descendência tunisiana, Mehdi Dehbi, no papel central, com sua aparência de traços do Oriente Médio, conhecido por filmes como O Homem Mais Procurado (2014), Invasão a Londres (2016) e a série Tyrant (2014-2016). Confira o trailer da série:

Na trama, o personagem central surge em Damasco, na Síria, país fragilizado em decorrência de conflitos por motivos religiosos. Após realizar um discurso enigmático, a região é atingida por uma tempestade de areia que provoca o recuo do Estado Islâmico. As testemunhas denominam o estranho como Al Masih (Debhi), um novo profeta que realizou um milagre. Por isso, milhares de pessoas o seguem através do deserto numa caminhada até a fronteira de Israel, trazendo ao debate a imigração e a situação dos refugiados sírios barrados pelos países vizinhos. Até a palavra adotada é emblemática, porque Al Masih, na tradição islâmica, significa Falso Profeta. Mas pode ser traduzido do árabe como Aquele que foi Ungido e remete a palavra hebraica Masiah, traduzida para o grego como Khristos. Variantes utilizadas para se referir a Jesus Cristo na Bíblia.

O novo profeta e seus seguidores chamam atenção de líderes políticos, da imprensa internacional e da analista da CIA, Eva Geller, interpretada por Michelle Monaghan, estrela de Missão Impossível (2006, 2011 e 2018). Uma mulher metódica, inteligente, focada no trabalho e cética. Claro que o nome Eva não foi escolhido a toa. Para ela, o novo líder é uma ameaça que precisa ser monitorado e desmascarado como impostor. Outro cético é o agente israelense, Aviram Daham, interpretado por Tomer Sisley, de Jesus – A História do Nascimento (2006) e Pura Adrenalina (2011). Ambos vivem momentos desconfortáveis diante do Messias e por causa dele. O confronto entre eles, rendem diálogos que aprofundam as incertezas em torno do personagem central e trazem reflexões entre o ceticismo e a fé.

Em meio a diversos supostos milagres, perguntas sem resposta e investigações, a série tem o mérito de dar voz a várias interpretações, correntes religiosas e contextos políticos, além de saber explorar uma trama em escala global, com personagens bem construídos, em jornadas pessoais interessantes que trazem ao espectador, muitos temas para questionamentos e reflexões. Não se deve esperar grandes momentos de interpretação, mas vale destacar a atuação de Stefania LaVie Owen (Um Olhar do Paraíso, 2009), como a filha do pastor, Rebecca Iguero, e Sayyid El Alami, da comédia francesa Monsieur Je-Sais-Tout (2018), como o jovem seguidor Jibril Medina.

A série tem o mérito de dar voz a várias interpretações, correntes religiosas e contextos políticos, além de saber explorar uma trama em escala global, com personagens bem construídos, em jornadas pessoais interessantes que trazem ao espectador temas para questionamentos e reflexões.

Apesar de várias mudanças de rumo inesperadas e instigantes, especialmente no impactante final, a série se desenvolve num ritmo mais lento do que deveria, por conta da preocupação em trazer uma ambientação adequada nos locais envolvidos na trama como Jerusalém ou Washington e pela construção de seus diversos personagens importantes. Porém, alguns diálogos repetitivos e expositivos poderiam ser evitados. Mesmo assim, a produção é impecável e consegue atualizar algumas passagens bíblicas para os tempos modernos tanto sobre momentos da vida de Cristo como em interpretações do último livro bíblico. Além da preocupação da produção em retratar as repercussões em redes sociais, vídeos virais, a manipulação de sites pelo governo, a temática das fake news e os cultos transmitidos pela televisão. O Messias até gosta de posar para fotos, postadas em seguida nas redes sociais.

Ciente de caminhar num campo minado com a temática da nova série, a produção opta por apresentar o personagem central do Messias, de forma minimalista. Um homem misterioso, dúbio, sem preocupação em dar explicações e de poucos diálogos. A série é hábil em manter a dúvida dos espectadores, como mais um elemento de tensão e suspense, ao sugerir que o personagem pode, de fato, ser o Messias moderno, ou um terrorista que se aproveita da farsa para mascarar algum plano secreto ou ainda um charlatão com sérios problemas psicológicos e um passado nebuloso, associado a figura de Payam Golshiri, estudante de uma universidade norte americana e criado por um mágico no Irã.

A série Messias tem seus problemas de ritmo e conservadorismo em algumas abordagens, mas merece ser assistida, sendo vitoriosa em trazer diversas pautas relevantes para reflexão e debate sobre espiritualidade, fé, ideologia, política e religião. Ao longo dos dez episódios, muitos temas são desenvolvidos. Mesmo assim, algumas tramas em aberto sugerem maior desenvolvimento numa possível nova temporada. Depois do final impactante, tudo indica que a Netflix deve apostar na continuidade da série. Se depender de polêmica, isso já está garantido.

O casal cristão de produtores, Mark Burnett e Roma Downey, foram responsáveis pela minissérie A Bíblia (2013) e a nova versão de Ben Hur (2016). O criador Petroni veio de séries de comédia australianas, com uma carreira diversificada em Hollywood, ao escrever roteiros dispares, com destaque para o terror A Rainha dos Condenados (2002), a comédia Meninos de Deus (2002), o romance Mistérios do Passado (2002), a aventura As Crônicas de Nárnia – A Viagem do Peregrino da Alvorada (2010), o terror O Ritual (2011) e o drama de guerra A Menina que Roubava Livros (2013). Ele também é responsável pela série de TV, Milagres – Entre o Céu e o Inferno (2003), de única temporada, considerada o Arquivo X, com viés espiritual. O produtor teve a maior parte de sua carreira fundamentada em obras de temática religiosa e bíblica. Portanto, a escolha do tema da nova série não é motivo de surpresa.

A polêmica certeira em torno de Messias se concretizou apenas com o lançamento do trailer em dezembro de 2019 que resultou em protestos e ameaças de boicotes. Dias depois do lançamento, o governo da Jordânia já exigiu do Netflix, a retirada da série na biblioteca do serviço de streaming. A fórmula do Netflix, de apostar em polêmicas, vem dando certo nos últimos anos com obras como House of Cards, Baby, Você, Insaciável, O Mecanismo, Os 13 Porquês, Inacreditável, La Casa de Papel, Sense8, Elite, Lucifer, Jinn, Atypical, Sex Education e o documentário Democracia em Vertigem. Os exemplos são muitos. Rende audiência, visibilidade com a imprensa e os novos assinantes.

A polêmica certeira em torno de Messias se concretizou apenas com o lançamento do trailer em dezembro de 2019 que resultou em protestos e ameaças de boicotes.

Entretanto, a estratégia de explorar polêmicas não é novidade, nem exclusividade do popular serviço de streaming, sendo adotada por jornais, rádios, livros, revistas, música, emissoras de televisão e produtoras de cinema ao longo da história da cultura pop. Os exemplos também são incontáveis. Como a transmissão do cineasta Orson Wells, da rádio novela, A Guerra dos Mundos, inspirada no clássico da literatura de H. G. Wells, como se fosse um boletim de notícias de uma suposta invasão de marcianos, nos anos 30. Segundo relatos, a transmissão provocou pânico entre os ouvintes da Costa Oeste dos EUA e entrou para a história. Outro exemplo notório foi a exibição do enterro real do astro Bruce Lee, como se fosse parte da trama do filme Jogo da Morte (1978) que vinha sendo filmado na época da trágica morte.

Confira outras críticas do streaming:

Com 10 episódios, Messiah chegou a Netflix no dia 01 de janeiro de 2020.

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