Outubro Rosa: 10 perguntas e respostas sobre o câncer de mama
O câncer é o principal problema de saúde pública no mundo e está entre as quatro principais causas de morte prematura – antes dos 70 anos – na maioria dos países. Para o Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima 66.280 novos casos de câncer de mama em 2020, sendo o segundo tipo mais comum no país, junto ao câncer de próstata e atrás apenas do de pele não melanoma. O Inca prevê 2.390 novos casos de câncer de mama até o fim do ano em Pernambuco, sendo 560 ocorrências no Recife. O blog fez 10 perguntas sobre o tema com a radiologista Mirela Ávila:
1. Por que “Outubro Rosa”?
O Outubro Rosa é um movimento internacional de conscientização para o controle do câncer de mama. A iniciativa surgiu no início da década de 1990, pela Fundação Susan G. Komen for the Cure, dos Estados Unidos. A campanha tem o objetivo de compartilhar informações e alertar sobre a doença; proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento, além de contribuir para a redução da mortalidade.
2. O câncer de mama tem cura?
Se o câncer é identificado em uma fase inicial, as chances de cura podem a chegar a 95%. Quanto mais tarde a doença é descoberta, menores são essas chances. Fazer exames de rastreamento na frequência recomendada pelo seu médico é a melhor forma de obter um diagnóstico precoce.
3. Quais as recomendações para o rastreamento do câncer de mama?
No Brasil, as entidades médicas nas áreas de mastologia, oncologia, ginecologia e radiologia recomendam realizar a mamografia anualmente a partir dos 40 anos. Esse rastreamento deve acontecer até, pelo menos, os 74 anos de idade e deve prosseguir caso a mulher possua maior expectativa de vida. Nas mulheres com mamas densas, a ultrassonografia deve ser considerada como complemento à mamografia. Nos casos de mulheres com alto risco para câncer de mama, a recomendação é intensificar o rastreamento por imagem através da antecipação da idade de início dos exames, estando indicado também incorporar a avaliação por ressonância magnética ou por ultrassonografia, dependendo dos fatores de risco, como história pessoal ou familiar de câncer de mama ou ovário em parente de primeiro grau, predisposição genética decorrente de mutações, entre outros.
4. E nas mulheres mais jovens, antes dos 40 anos?
Dos registros de câncer de mama em todo o mundo, cerca de 10% dos diagnósticos acometem mulheres abaixo dos 40 anos, sendo mais raro antes dos 30 anos. Entretanto, um estudo recente (Projeto Amazona III) mostrou uma tendência maior de acometimento do câncer de mama nas mulheres brasileiras mais jovens, correspondendo a 17% dos casos abaixo dos 40 anos. Existem controvérsias sobre a idade de início e o tipo de exame para rastreamento do câncer nessa faixa etária. O ideal é realizar acompanhamento médico periódico desde os 25 anos, autoexame mensal e, quando possível, ultrassonografia das mamas anual. Demais exames devem ser realizados de acordo com fatores de risco apresentados pela mulher.
5. Qual a diferença entre mamografia e ultrassonografia?
A mamografia é uma radiografia das mamas realizada por um aparelho chamado mamógrafo. É feita uma compressão das mamas para visualizar pequenas alterações, principalmente as microcalcificações, permitindo descobrir o câncer de mama em fase inicial. Já a ultrassonografia não utiliza radiação e geralmente é realizada quando existe alguma alteração clínica, como um nódulo palpável ou como complemento da mamografia para esclarecer alguma alteração. Também é usada nas mamas mais densas, que podem obscurecer lesões em permeio ao tecido mamário.
6. A mamografia pode provocar câncer induzido pela radiação?
Quando realizada de forma adequada, a dose completa de radiação em uma mamografia é baixa e não possui potencial danoso ou cancerígeno. Em média, a dose total de uma mamografia completa é de cerca de 0,4 millisieverts. Esse número é equivalente à radiação que recebemos naturalmente do meio ambiente em sete semanas de vida.
7. Como se faz mamografia em mulheres que possuem implantes?
Além das quatro imagens que já são realizadas de rotina na mamografia, para as mulheres com implantes, são adquiridas mais quatro imagens, onde o implante é deslocado posteriormente para melhor visualização do tecido mamário. É uma técnica conhecida como “manobra de Eklund”, que amplia a acurácia diagnóstica do exame. Quando realizada adequadamente, a mamografia é bastante segura e não danifica a prótese. A recomendação da idade e métodos diagnósticos no rastreamento do câncer obedecem aos mesmos critérios daquela mulher sem implantes.
8. O autoexame mensal pode substituir os exames periódicos de imagem?
Existe a crença de que o autoexame das mamas é suficiente para a detecção de possíveis tumores. Ele é válido, mas limitado, pois não consegue evidenciar lesões pequenas ou em estágio inicial, quando ainda não são palpáveis ou clinicamente perceptíveis. Assim, o autoexame não deve substituir os exames periódicos de imagem, principalmente nas mulheres acima de 40 anos.
9. Quando se faz o exame por imagem das axilas?
As axilas devem ser examinadas em conjunto com a avaliação por imagem das mamas, independente do método utilizado, sendo que o ideal é a ultrassonografia. Muitas vezes, precisa ser solicitado como um exame adicional, para fins de cobrança e burocracia. Entretanto, na prática, é imprescindível que ambas as regiões sejam incluídas no rastreamento do câncer de mama. A principal função da avaliação da axila é o diagnóstico de linfonodos anormais, que podem representar uma disseminação do câncer para o sistema linfático, modificando de forma impactante o tratamento.
10. Como proceder se o exame de mama mostrar uma alteração?
No laudo de qualquer exame de imagem de mama, ao final, haverá uma classificação numérica: o BI-RADS, que vai de 0 a 6. Nessa classificação, a gente norteia qual o grau de suspeição das alterações vista no exame e sugere qual será o próximo passo. É uma linguagem mundial. Quando diz BI-RADS 0, significa que precisa de mais exames complementares, porque aquele que você fez ainda não consegue fechar um diagnóstico. As categorias 1 e 2 correspondem aos exames normais ou com achados benignos. A categoria 3 é um achado provavelmente benigno, mas que merece acompanhamento mais rigoroso. Quando falamos das categorias 4 e 5, já existe uma suspeita. Às vezes, ela é mínima, mas precisa fazer biópsia, que é tirar material da lesão para diagnosticar do que se trata. Ao receber um resultado com categoria 4 ou 5, não se desespere de jeito nenhum. Leve o exame a um médico e lembre-se que a maioria das alterações são benignas. Detectamos muito mais alterações benignas do que malignas. E mesmo que se confirme um diagnóstico de câncer de mama, saiba que não é o fim da linha.
João Alberto