Sobrevivente de desabamento em Olinda critica ausência do poder público: “Estamos nos sentindo sós”

 Sobrevivente de desabamento em Olinda critica ausência do poder público: “Estamos nos sentindo sós”

Marcelo Augusto Silva, 57, e seu cão, resgatado do Edf. Leme – Foto: Melissa Fernandes

Cinco dias após o desabamento do Edifício Leme, localizado no bairro de Jardim Atlântico, em Olinda, sobreviventes da tragédia seguem demandando soluções por parte do poder público.

Enquanto profissionais envolvidos na demolição do prédio trabalhavam, nesta terça-feira (2), na tentativa de resgatar itens dos apartamentos que não foram atingidos pelo desabamento, Marcelo Augusto Silva, 57, que morava no apartamento 102, denunciava a morosidade e a insuficiência do acolhimento da Prefeitura de Olinda às vítimas.

“Estamos nos sentindo sós até agora. Já ouvi até de uma pessoa vinculada à prefeitura que bastava trabalhar para conseguir tudo de novo, que o que importava era que estávamos vivos”, disse Marcelo, que antes da tragédia trabalhava como office-boy e entregador.

Segundo ele, a falta de urgência no atendimento tem transmitido às vítimas um sentimento de abandono. Muitos sobreviventes da tragédia, incluindo Marcelo, tiveram que recorrer a familiares por abrigo e assistência. “As vidas que puderam o resgate salvou. Até o pessoal da demolição fez o que pode para tirar o que sobrou dentro do prédio; só a prefeitura que está fazendo um mau trabalho”, comentou o ex-ocupante do Edifício Leme.

“Alguém me disse para fazer um cadastro para receber um auxílio [moradia] de R$ 260 daqui a 90 dias. Não dá. Minha necessidade é hoje. Daqui a 90 dias não sei se estarei vivo. A gente precisa de ajuda urgente, para agora”, completou Marcelo.

O ex-morador do Leme diz, ainda, que além do auxílio de R$ 260, não foi oferecido um local para acolher os desabrigados. Por outro lado, a Prefeitura de Olinda afirma que um abrigo foi disponibilizado, mas as pessoas “preferiram ir para a casa de parentes, vizinhos e amigos”. Através de nota, a gestão afirmou, ainda, que o auxílio começará a ser pago em junho e que, até lá, serão disponibilizadas cestas básicas para as vítimas do desmoronamento.

Marcelo relata, ainda, que as burocracias nos processos de solicitação do aporte financeiro e de novos documentos atrapalham e deixam os sobreviventes em um estado de inércia. “A gente vai ser atendido como qualquer pessoa, não teríamos prioridade. Não estou pedindo para furar fila, mas, neste momento, a gente tem uma necessidade de priorização. Eu deveria estar trabalhando, mas não estou tendo condições”, diz o office-boy sobre a emissão de novos documentos.

Segundo a Prefeitura de Olinda, dez famílias que moravam no Leme serão levadas, ainda nesta terça (2), a um mutirão na sede da Secretaria Executiva de Assistência Social do município. No local, serão completados os cadastros para recebimento do auxílio moradia.

A gestão afirmou, ainda, que encaminhará um pedido pela isenção no processo de emissão da segunda via do RG à Defensoria Pública do Estado de Pernambuco. Em resposta à Folha de Pernambuco, o órgão afirmou que, até as 12h30 desta terça (2), nenhum pedido da Prefeitura de Olinda foi formalizado.

Confira a íntegra da nota enviada pela Prefeitura de Olinda:

A Prefeitura de Olinda, através da Secretaria Executiva de Assistência Social, vai levar as dez famílias que moravam no Edifício Leme para um mutirão na sede da pasta, onde elas receberão toda assistência jurídica, psicológica e social, nesta terça-feira (02.05). No local, elas receberão refeição e uma cesta básica. Será feito todo processo de cadastramento para o recebimento do auxílio-moradia da Prefeitura, no valor de R$ 260, o que deve acontecer a partir do mês de junho. Até lá, essas pessoas receberão uma cesta básica do Município.

Importante ressaltar que a Assistência Social Municipal está mantendo diálogo com essas famílias desde às 23h da última sexta-feira (28.04). Nenhuma dessas pessoas ficou desabrigada. A Prefeitura disponibilizou um local de acolhimento com capacidade para receber até 40 pessoas, mas elas preferiram ir para a casa de parentes, vizinhos e amigos.

A Gestão Municipal também vai ajudar na emissão do documento de RG. Será encaminhado para a Defensoria Pública um cadastro dessas pessoas comunicando que elas encontram-se em situação de vulnerabilidade e não têm como pagar pela emissão de uma nova via do documento. Após isso, a Prefeitura vai se responsabilizar pelo transporte dessas pessoas para emissão da carteira de identidade.

A previsão é que a demolição termine até amanhã (03.05).

mmscriacoes

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