O “novo normal” e a perspectiva da moda pós-pandemia.

Danielle Janguiê
Ouve-se muito falar em “novo normal” e apesar do termo ser auto-explicativo, vê-se uma banalização no uso, como se tudo que ocorresse pós-pandemia viesse a ser novo e normal. A expressão traz consigo um peso de ressignificância das nossas rotinas, o que antes era ordinário passa a ser valorizado (não necessariamente extraordinário), o desapego à matéria e ao vil metal vem mais à tona e se torna mais evidente, as reclamações diárias são vistas com outro olhar. Gratidão é uma palavra muito repetida nas redes sociais, mas de nada importa falar e não fazer. Mas será que sairemos dessa pandemia tão modificados como todos, quase unanimemente, pregam?
A história da moda nos traz indícios que a humanidade passa por ciclos, e depois de cada tragédia, se vem uma época totalmente diferente da anterior, com mais requintes ou menos pompa, mas sempre mostrando que sobreviveu ao problema, um momento de mostrar pro mundo que estamos diferentes mas estamos aqui. Para citar exemplos, após a gripe espanhola, seguiu-se a moda dos anos 20 com plumas, paetês e franjas, após a Segunda Guerra Mundial, entra em voga o tailleur acinturado, depois da peste bubônica, o renascimento. Olhando para o passado, sabemos de onde viemos, com isso, podemos traçar uma perspectiva para o chamado normal do futuro, qual seja o “novo normal”. Estamos mergulhados numa fase fast-fashion onde ter mais é a regra, poucos se insurgem contra isso. O mercado da moda é gigante, e pra modifica-lo nada mais “simples” do que uma grande mudança mundial, com a modificação do inconsciente coletivo.
A pandemia que nos assola neste momento, trará mudanças significativas, percebe-se. A sustentabilidade, o minimalismo, o menos “ter” e mais “ser”, virão com mais força, o que antes se apresentava timidamente, será mais visto e divulgado. Preocupações com o trabalho escravo e meio ambiente serão decisivas para algumas marcas, a moda colaborativa também aparece de forma mais usual. Mas então qual mudança de fato teremos na volta da pandemia? Num primeiro momento, se espera um consumismo desenfreado de tudo que estava reprimido, o ser humano tem uma necessidade de consumo para satisfação própria e isto está sendo represado com o isolamento. Mas não acreditamos que será a regra. Passados os primeiros momentos pós pandemia, teremos uma sociedade mais solidária, preocupada com o outro, tentando comprar da loja local ajudando ao pequeno. Essa talvez seja a perspectiva mais acertada do que ocorrerá em massa.
Evidente que não deixarão de existir compras, tampouco as marcas de luxo, o mercado da moda abraça a todos. Mas isso não será mais o essencial, será o que sempre deveria ter sido: o extraordinário. O normal será clássico, sustentável, solidário, colaborativo. O normal serão consumidores perguntando como foram feitas as peças, se com uso do trabalho escravo. Seguimos aguardando o desfecho desse cenário, essas são perspectivas apenas, não sabemos sequer por quanto tempo ficaremos isolados ou limitados pela pandemia. Mas é certo afirmar que o normal não será o que estamos acostumados, e o “novo normal” será um cenário completamente diferente do que vemos agora. O normal será a humanidade sendo mais humana, e a moda não ficaria de fora desse contexto.