Oposição à direita ajusta estratégia em Recife, mas enfrenta dificuldades com padrinhos políticos Com João Campos liderando a corrida eleitoral, Gilson Machado e Daniel Coelho tentam reinventar discursos e criticar gestões do PSB na capital pernambucana.
Com João Campos liderando a corrida eleitoral, Gilson Machado e Daniel Coelho tentam reinventar discursos e criticar gestões do PSB na capital pernambucana.
A oposição à direita adaptou o discurso em relação a eleições anteriores no Recife para tentar atingir o prefeito e candidato à reeleição João Campos (PSB).
Segundo pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, Campos lidera a disputa com folga, tendo 76% das intenções de voto, enquanto Gilson Machado (PL) registra apenas 9%, e Daniel Coelho (PSD), 5%. Com esses números, a eleição pode ser definida já no primeiro turno.
Os dois opositores têm demarcado, em entrevistas e discursos, o ano de 2013 como ponto de partida para críticas ao mencionarem os problemas da capital pernambucana. Antes, ambos eram críticos à atuação do PT, que esteve à frente da prefeitura da cidade de 2001 a 2012.
Para obter sucesso na estratégia, os dois esbarram na alta rejeição a seus padrinhos políticos. Pesquisa Datafolha divulgada no final de agosto mostra que quase dois terços dos eleitores (64%) não votariam de jeito nenhum em um candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Recife. No caso da governadora Raquel Lyra (PSDB), o índice é quase o mesmo: 63%.
O PT governou o Recife por três mandatos seguidos até 2012, com duas gestões de João Paulo e uma do ex-prefeito João da Costa, barrado pelo próprio partido para tentar a reeleição naquele ano.
Em 2013, começou a era do PSB na cidade, com dois mandatos do ex-prefeito Geraldo Julio e agora um de Campos, que tenta a reeleição.
Nas eleições de 2020, a candidata apoiada por Daniel, a delegada Patrícia Domingos, à época filiada ao Podemos, tinha como um mote de campanha a frase de que “PT e PSB estão há 20 anos no poder”.
Em 2012, ele foi candidato a prefeito pelo PSDB, também em uma campanha com críticas a gestões petistas. Ao disputar a prefeitura em 2016, criticou os 16 anos seguidos de PT e PSB no governo do município.
Ainda assim, em entrevistas, Daniel tem feito agora acenos ao PT, mesmo frisando que foi oposição aos governos do partido.
“Fiz oposição aos governos do PT e já dizia que era pequena a política de habitação. Mas não dá nem para comparar um governo como o de João Paulo com o de João Campos [na habitação]”, disse Daniel em entrevista ao jornal Diário de Pernambuco em agosto.
“Quando disputei a eleição em 2012, ali foi o início da era do PSB, não tínhamos o quadro grave que a gente tem hoje. Recife não era a segunda capital mais desigual do Brasil, não tínhamos um verdadeiro desastre na política de proteção de morros e não tínhamos tantas reclamações no sistema de saúde. Ou seja, a cidade regrediu nos 12 anos de João Campos e Geraldo Julio”, acrescentou.
Daniel fez oposição ao governo de Dilma Rousseff (PT) quando era deputado federal e votou a favor do impeachment dela, em 2016. Na atual campanha, porém, tem evitado entrar em discussões sobre posição ideológica e feito acenos a diversos espectros políticos.
Apoiadora de Daniel, a governadora foi à inauguração de seu comitê de campanha em agosto, mas não tem comparecido a atos de rua ao lado dele.
Gilson Machado, por sua vez, tem explorado as relações políticas de Campos com Geraldo Julio e o ex-governador Paulo Câmara, que não está mais filiado ao PSB. Levantamentos internos da campanha indicaram que o eleitorado do Recife segue refratário aos dois.
Em um discurso, o candidato do PL criticou a situação do Recife e disse: “Temos uma herança maldita, deixada pela turma do PSB, de Geraldo Julio, Paulo Câmara e João Campos, que acabaram com o nosso estado e com o Recife”.
O candidato do PL tem falado em “turma de Geraldo e Paulo” para se referir ao prefeito.
Na campanha de Daniel, a estratégia também tem o objetivo de tentar atrair eleitores petistas mais ideológicos, que não ficaram satisfeitos com o veto de Campos ao PT para a vaga de vice da chapa, ou que têm divergências programáticas com o PSB.
O prefeito preteriu o partido do presidente Lula em prol da indicação de Victor Marques (PC do B), seu amigo pessoal e ex-chefe de gabinete, para ter um nome de confiança na linha sucessória caso saia do cargo, se for reeleito, para ser candidato a governador em 2026.
Nesse campo, marqueteiros de Gilson sabem que não terão o voto de petistas. Mesmo assim, o candidato do PL, que foi ministro do Turismo de Bolsonaro, tem tentado afastar o eleitor de esquerda de Campos.
Em entrevista ao portal G1, ele teceu elogios à candidata do PSOL, Dani Portela, e disse que, se fosse de esquerda, votaria nela porque “para João Campos, uma hora o PT é ladrão e outra é amigo”. “Se eu fosse esquerdista, que não sou, votaria em Dani Portela, porque ela é igual a mim. Ela [Dani] tem lado.”
Da Folha de São Paulo.