Vice-líder de Lula na Câmara, Maria Arraes diz que ainda há “longo caminho para governabilidade”

Deputada federal Maria Arraes avalia situação da base aliada do governo Lula no Congresso Nacional
 Vice-líder de Lula na Câmara, Maria Arraes diz que ainda há “longo caminho para governabilidade”

Deputada federal em primeiro mandato, Maria Arraes (Solidariedade-PE) integra o grupo de vice-líderes do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Câmara. A pernambucana foi eleita aos 28 anos, com campanha impulsionada pela sua irmã, Marília Arraes (Solidariedade-PE), ex-deputada federal que concorreu ao Governo de Pernambuco e ganhou apoio do então candidato petista no segundo turno.

O sobrenome de Maria já é conhecido na Câmara: o ex-governador Miguel Arraes, seu avô, foi deputado em quatro legislaturas. Ana Arraes, sua tia e ex-ministra do Tribunal de Contas da União, também representou o estado no Congresso.

Além de titular na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Maria foi convidada para a comitiva que acompanha o presidente da República na viagem à China. Como vice-líder, a parlamentar é uma das responsáveis pela articulação do governo para votações de pautas importantes na Câmara dos Deputados.

Maria Arraes avalia que a base governista ainda está em processo de formação. Por isso, propostas polêmicas não devem ser enviadas pelo presidente nos seis primeiros meses deste ano. A parlamentar considera que a reforma tributária, porém, deve passar sem grandes problemas porque a matéria está sendo debatida na própria Câmara e não tem apelo ideológico.

Prioridade para o governo Lula, neste momento, no Congresso?
Para este primeiro semestre, a prioridade é tirar o Brasil do mapa da fome. Quando digo isso, englobo vários projetos sociais aprovados pra reinserir o país no mercado mundial e, consequentemente, acabar com as desigualdades e as injustiças acentuadas nos últimos quatro anos.

Tenho visto no governo Lula um desempenho para entrega de projetos, como o Minha Casa, Minha Vida, o Mais Médicos, o Bolsa Família, o aumento salário mínimo etc. Então, vejo coisas concretas que têm alterado a vida das pessoas, de forma mais precisa e mais efetiva.

Reforma tributária também?
Isso é uma questão que, em todas as reuniões, tanto da vice-liderança como dos ministros, o governo tem reforçado muito, mostrando a necessidade da realização dessa reforma o quanto antes. Até porque existe aquela máxima de que um governo se faz nos primeiros seis meses, e que uma grande reforma terá mais efetividade.

O foco na reforma tributária é muito grande. É um projeto de lei que está sendo debatido há muitos anos. A gente vê que não é uma questão muito partidária nem governamental, pois ultrapassa uma ideologia. A reforma tributária faz parte das prioridades porque integra a diminuição das desigualdades sociais, porque a gente vai começar a cobrar mais imposto de quem tem mais dinheiro e vai cobrar menos de quem tem menos.

O projeto foi fatiado. Como você enxerga isso?
A reforma será uma junção da PEC 45/2019 com um outro texto, mas ainda não definido. Vejo que ainda não fizeram uma definição e isso até me preocupa um pouco. Apesar de muito acelerados para resolver a reforma, ao mesmo tempo não foi passado como ficará a junção desses dois textos, o que será aproveitado de cada um. Isso ainda vai ser discutido. Já foi passado um panorama das ideias principais da reforma, mas ainda a ser materializado.

É dito que será pego o melhor de cada proposta, mas eu não sei até que ponto isso vai acontecer de verdade ou se vão adaptar a ideia na Câmara. O Grupo de Trabalho vai estar trabalhando junto com os ministérios e com a parte técnica competente, mas Câmara terá que pautar.

Construção da base do governo?
Está se fortalecendo, mas temos um longo caminho para conseguir uma governabilidade plena. Viemos de um de uma polarização muito grande no nosso país e isso reflete no nosso dia a dia aqui na Câmara. O que tem acontecido no plenário é um absurdo. A extrema direita e os mais conservadores sobem para ficar xingando o pessoal da esquerda.

Agora não existe mais a direita moderada, com a qual a gente costumava debater. Hoje é extrema direita contra a esquerda, que está cada vez mais enfraquecida no sentido de usar a comunicação digital a favor dela.

A Câmara está muito polarizada e isso é refletido no dia a dia. Em toda legislatura, são criadas frentes parlamentares após a obtenção de assinaturas de apoio. Mas se uma frente técnica, como a da Transnordestina, é liderada por um parlamentar de esquerda, não terá assinaturas da direita porque não querem se vincular.

O debate tem ficado raso e a governabilidade é um grande desafio para o presidente Lula. Mesmo assim, vejo ele agir com muita habilidade ao dar espaços aos partidos para ter essa governabilidade.

A reforma poderá ser um teste?
O governo não deve votar nada polêmico nestes primeiros seis meses. Não considero que a reforma será o primeiro teste porque há um certo consenso. Há outras votações como a MP da Funasa, do Carf e Coaf e outras que são adiadas para a base não ser testada. Claro que a reforma deve ter certa resistência, mas deve ser mais fácil de passar de forma consensual. Não será o teste de fogo do governo.

Porque a federação do Solidariedade com o PDT e PSB não andou?
Federação é um assunto muito complexo. Para ser feita antes de uma eleição estadual e nacional já é difícil, imagine a dificuldade de criar uma unidade em cinco mil municípios. Houve dificuldade de conciliar municípios que são nossa base, mas oposição a esses partidos. Mas não descartamos, obviamente, as eleições nacionais de 2026, a depender de como os outros partidos vão se comportar, principalmente na conjuntura nacional, com relação ao presidente Lula.

O debate tem ficado raso e a governabilidade é um grande desafio para o presidente Lula. Mesmo assim, vejo ele agir com muita habilidade ao dar espaços aos partidos para ter essa governabilidade.

A reforma poderá ser um teste?
O governo não deve votar nada polêmico nestes primeiros seis meses. Não considero que a reforma será o primeiro teste porque há um certo consenso. Há outras votações como a MP da Funasa, do Carf e Coaf e outras que são adiadas para a base não ser testada. Claro que a reforma deve ter certa resistência, mas deve ser mais fácil de passar de forma consensual. Não será o teste de fogo do governo.

Porque a federação do Solidariedade com o PDT e PSB não andou?
Federação é um assunto muito complexo. Para ser feita antes de uma eleição estadual e nacional já é difícil, imagine a dificuldade de criar uma unidade em cinco mil municípios. Houve dificuldade de conciliar municípios que são nossa base, mas oposição a esses partidos. Mas não descartamos, obviamente, as eleições nacionais de 2026, a depender de como os outros partidos vão se comportar, principalmente na conjuntura nacional, com relação ao presidente Lula.

Mulher na política
Quando cheguei a Brasília, duas deputadas federais me abriram os caminhos: minha tia Ana Arraes [atual ministra do TCU] e Marília Arraes [ex-deputada e sua irmã]. Eu pude conversar muito com Marília sobre essa dificuldade de ser mulher na política. Confesso que, muitas vezes, achava de exagero.

Ao chegar aqui, vi a diferença no tratamento entre homens e mulheres, como interrupção em comissão ou plenário, por homens gritando, a questionamentos que a gente não vê acontecer com com deputados. Falam como se você não ocupasse esse espaço, como se nosso trabalho e entregas não importassem. É muito mais difícil pra gente, precisamos ficar se reafirmando.

Nós, da bancada feminina, nos reunimos diversas vezes para discutir pautas favoráveis às mulheres, com caráter de unanimidade. Independente de posição ideológica, a gente consegue identificar muitas muitas vias em comum entre nós, seja de esquerda de direita ou de centro.

Como mulher, fico muito feliz de estar na maior bancada feminina da história da Câmara, com 91 adaptadas, mas muito ciente do que muito precisa ser feito porque nós ainda somos minoria da minoria.

Como o governo Lula poderia colaborar?

Lula deu vários exemplos: colocou duas presidentes mulheres de bancos e nomeou 11 ministras. Ele tem colocado a mulher em posição de protagonismo, mas não somente para ‘assunto de mulher’: há Simone Tebet no Ministério do Planejamento, outra no de Esportes [Ana Moser] etc. A gente precisa estar aqui ocupando um espaço na Câmara para discutir assuntos como economia, educação e saúde, não podemos estar aqui discutindo só assuntos que são importantes para nós.

Mulher na política
Quando cheguei a Brasília, duas deputadas federais me abriram os caminhos: minha tia Ana Arraes [atual ministra do TCU] e Marília Arraes [ex-deputada e sua irmã]. Eu pude conversar muito com Marília sobre essa dificuldade de ser mulher na política. Confesso que, muitas vezes, achava de exagero.

Ao chegar aqui, vi a diferença no tratamento entre homens e mulheres, como interrupção em comissão ou plenário, por homens gritando, a questionamentos que a gente não vê acontecer com com deputados. Falam como se você não ocupasse esse espaço, como se nosso trabalho e entregas não importassem. É muito mais difícil pra gente, precisamos ficar se reafirmando.

Nós, da bancada feminina, nos reunimos diversas vezes para discutir pautas favoráveis às mulheres, com caráter de unanimidade. Independente de posição ideológica, a gente consegue identificar muitas muitas vias em comum entre nós, seja de esquerda de direita ou de centro.

Como mulher, fico muito feliz de estar na maior bancada feminina da história da Câmara, com 91 adaptadas, mas muito ciente do que muito precisa ser feito porque nós ainda somos minoria da minoria.

Como o governo Lula poderia colaborar?

Lula deu vários exemplos: colocou duas presidentes mulheres de bancos e nomeou 11 ministras. Ele tem colocado a mulher em posição de protagonismo, mas não somente para ‘assunto de mulher’: há Simone Tebet no Ministério do Planejamento, outra no de Esportes [Ana Moser] etc. A gente precisa estar aqui ocupando um espaço na Câmara para discutir assuntos como economia, educação e saúde, não podemos estar aqui discutindo só assuntos que são importantes para nós.

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