Da euforia à decepção na saída: a anatomia da queda de Luxemburgo no Sport

 Da euforia à decepção na saída: a anatomia da queda de Luxemburgo no Sport

Luxemburgo passou cinco meses no Leão e teve aproveitamento de cerca de 40%; deixa o clube perto da zona de rebaixamento da Série A e próximo de eliminação na Sul-Americana

 

passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo Sport foi curta, mas intensa. O técnico passou cerca de cinco meses – e, durante este período, experimentou e fez a torcida experimentar várias sensações. Da euforia no início até a frustração na queda, incluindo a lua da mel quando o time chegou ao grupo da Libertadores no primeiro turno da Série A.

Euforia no início

O currículo de Vanderlei Luxemburgo é muito vitorioso. Maior campeão brasileiro entre os treinadores, ele era praticamente unanimidade como melhor técnico do país na década de 90 e no início dos anos 2000. Embora não conquistasse títulos grandes desde 2004, o anúncio do nome dele pelo Sport foi muito bem aceito pelos rubro-negros.

Esse sentimento foi acentuado na coletiva de apresentação. Bem ao seu estilo, o técnico demonstrou ambição, negou que estivesse ultrapassado e prometeu títulos e briga por ao menos uma vaga na Libertadores.

Luxemburgo adotou discurso otimista na chegada (Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)

Altos e baixos no começo

Luxemburgo chegou em um dia, e no outro já estava à beira do campo, comandando o Sport. Foi na partida de volta das oitavas de final da Copa do Brasil, contra o Botafogo. O jogo acabou empatado em 1 a 1 – e o Leão foi eliminado (perdeu o primeiro jogo por 2 a 1).

Na partida seguinte, uma derrota por 1 a 0 para o Avaí, que colocou o Sport perto da zona de rebaixamento da Série A. Naquele momento, no entanto, o revés não parecia preocupar tanto. A competição estava apenas na quarta rodada.

Nas partidas seguintes, o Leão ainda não engrenou. Venceu o Flamengo em casa, mas perdeu para o Vasco fora e teve dois tropeços na Ilha: empate com o São Paulo e derrota para o Vitória.

A bronca que deu certo

Após a derrota por 3 a 1 para o Vitória, Luxemburgo mostrou uma de suas faces no Sport: as críticas públicas. Ele não perdou o grupo pelo insucesso contra o rubro-negro baiano e disparou reclamações à forma como o time se portou em campo.

Entre outras coisas, Luxemburgo afirmou que o time não entrou em clima de decisão e que o problema do Sport, na derrota, foi falta de atitude.

Mesmo sem tempo para treinar, o time cresceu muito a partir dali. Emendou uma sequência de sete jogos sem perder. Foram cinco pela Série A, um pela Sul-Americana e a final do Campeonato Pernambucano, que estava atrasada.

O título estadual, por sinal, foi a única conquista do treinador no Leão. Mesmo assim, é preciso ser ressaltado que ele só comandou o Sport em uma partida da competição: justo a final contra o Salgueiro. Ele mesmo fez questão de dividir os méritos com seus antecessores, Daniel Paulista e Ney Franco – que comandaram o Leão na maior parte do torneio.

De qualquer forma, fica o registro do título: foi o primeiro de Luxemburgo desde 2011.

Lua de mel

Esse foi o momento da lua de mel de Luxemburgo com o Sport e a sua torcida. Ao fim da sequência de sete jogos invicto (e sem sofrer gol), o Leão estava na quinta posição da Série A. Era a 13ª rodada.

O risco de rebaixamento parecia ter morrido por completo. Pelo contrário: o Sport olhava para a vaga na Libertadores. Os mais exaltados pensavam até em buscar o líder Corinthians. O próprio executivo de futebol do clube, Alexandre Faria, falou sobre o assunto em entrevista à Fox Sports.

O Leão voltou a perder, contra o Botafogo, pela 14ª rodada – mas fechou o primeiro turno entre os seis primeiros.

Segundo turno desastroso

Tudo que foi construído na primeira parte da competição, porém, foi abaixo no segundo turno. O Sport faz uma das piores campanhas da competição a partir da 20ª rodada e entrou em uma espiral negativa, que atingiu o clube em vários setores.

Quer dados? Lá vai, então. O Sport só conseguiu uma vitória nos últimos 13 jogos da competição. Não conseguiu vencer nenhuma das sete partidas mais recentes em casa na Série A. O último triunfo como mandante no Brasileirão faz mais de três meses: foi contra o Atlético-GO, no dia 20 de julho.

Isso fez o time sair do grupo da Libertadores e olhar para baixo. O time chegou a voltar à zona de rebaixamento e, neste momento, está na 15ª posição – a dois pontos do Z-4.

A bronca que deu errado

Ao longo do processo de queda, houve alguns momentos marcantes. Quase de ruptura. O principal foi após a goleada sofrida para o Grêmio.

Na 22ª rodada da Série A, o Leão foi ao Rio Grande do Sul, não conseguiu render e levou 5 a 0 da equipe gremista.

– Eu me propus a vir para cá para brigar. Já estive em quinto e agora o time cai de rendimento. Agora a diretoria tome a decisão que tem de tomar. Não vou deixar o Sport brigar contra o rebaixamento com 90% do mesmo elenco do ano passado. Não foi uma atuação condizente com a história do clube. Tem de ter garra, luta e a gente não teve isso hoje. Eu não estou mandando recado, repito, porque falei para eles. Eu sei muito bem o que está acontecendo – afirmou, na situação.

Torcida do lado

O desabafo novamente foi “comprado” pela torcida. E teve desdobramentos. Até porque também vazou um áudio da bronca que o treinador deu nos jogadores após a partida. O teor foi até mais brando do que o exposto nos microfones.

Mas, no dia seguinte, os muros da Ilha do Retiro amanheceram pichados. Em favor de Luxemburgo. O meia Diego Souza, que vinha em baixa, foi tido como o vilão de ocasião. Um dos dizeres pedia saída do jogador – tratado como “falso ídolo”. Outro dizia: “Tamo junto, Luxa”.

Rendimento ruim

A situação, claro, não pegou bem internamente, segundo informações de bastidores. E, coincidência ou não, os resultados seguiram ruins. Na partida seguinte à do Grêmio, o Sport perdeu por 1 a 0 para o Avaí. Luxemburgo contemporizou para os atletas e admitiu que a responsabilidade maior – naquela derrota – era dele.

O time passou a se arrastar no Brasileiro a partir de então. Dos oito jogos seguintes, só venceu um (contra o Vitória, na 27ª rodada). Aí a própria torcida, que comprara o discurso do treinador no primeiro momento, passou a criticá-lo. Luxemburgo perdeu apoio.

Luxemburgo durante jogo pela Sul-Americana que culminou em sua saída (Foto: Agência Estado)

Demissão na Sul-Americana

Enquanto patinava no Brasileiro, Luxemburgo ainda conseguia os objetivos na Sul-Americana. Sob seu comando, o time passou duas eliminatórias: Arsenal de Sarandí-ARG e Ponte Preta. Chegou, assim, às quartas de final.

Em jogo tratado como prioridade pela diretoria e pela torcida, que foi em peso à Ilha do Retiro, Luxemburgo levou força máxima. O adversário das quartas era o Junior Barranquilla-COL. A ideia do Leão era abrir vantagem em casa para ir mais tranquilo para decidir em solo adversário e chegar às semifinais da competição pela primeira vez na história.

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